Leslie: eles estiveram a tweetar toda a noite para informar os portugueses
Enquanto a Leslie atravessava o país, um grupo de seis voluntários esteve colado ao computador durante toda a noite a partilhar informações sobre a tempestade. A conta VOST Portugal já soma mais de 4600 seguidores.
No último fim-de-semana, durante a passagem da tempestade Leslie, houve um grupo de pessoas que se manteve em frente ao ecrã do computador durante toda a noite para partilhar no Twitter todas as informações que conseguiam recolher sobre a intempérie.
A conta chama-se VOST Portugal e define-se como "um grupo de voluntários digitais em situações de emergência". Perante as falhas de comunicação da Protecção Civil e as SMS tardias da EMEL, decidiram assumir as rédeas e alertar a população para os efeitos da tempestade.
VOST (acrónimo de Virtual Operations Support Team) é uma rede europeia de voluntários, que actua em diversos países em cenários de cataclismo. Em Portugal, os antecedentes do projecto remetem para a altura do incêndio de Monchique, em Agosto, altura em que Jorge Gomes, de 48 anos, decidiu pôr mãos à obra. “A protecção civil deixou de dar informações a partir de certa hora e os média idem aspas”, revela o gestor, que perante a “aflição das pessoas” decidiu começar a recolher informações e publicar na sua conta pessoal. “Senti mesmo necessidade ajudar como podia”.
O feedback foi tão positivo que, agora, perante o aviso de uma tempestade rara na Península Ibérica, o algarvio juntou-se a cinco parceiros para formar a página portuguesa da VOST, avocando funções do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e da Protecção Civil. “O IPMA e a Protecção Civil ainda não perceberam onde é que as pessoas procuram informação, não faz sentido não fazerem um acompanhamento online”, diz, ao telefone com o P3.
O grupo de seis voluntários, composto por pessoas de várias idades e formações, esteve a fazer o acompanhamento durante 24 horas da passagem da tempestade pelo país, procurando informações nos mais diversos sítios. “Estamos em grupos no Facebook, vários fóruns e estamos sempre em contacto com os bombeiros e pessoas que conhecemos nas zonas afectadas”, explica, assumindo que procuram sempre validar a informação antes de publicar. “Escarafunchámos tudo”, revela.
A reacção foi “estrondosa”. Em poucos dias, chegaram mais de 4600 seguidores e tiveram mais de um milhão de visualizações. Números que, segundo Jorge, espelham bem a “necessidade” na procura de informações. Durante o agitado fim-de-semana, houve um episódio especial, quando o grupo recebeu um contacto de uma pessoa que não sabia do paradeiro dos pais. Ligaram para a toda a gente que conheciam na zona e conseguiram descobrir que estavam a salvo. “Foi uma autêntica rede de boa vontade. Este episódio valeu por tudo.”
O projecto não tem qualquer tipo de apoio, contando apenas com a boa-fé dos participantes, e está aberto à participação de novos voluntários que queiram aderir à causa. A comunicação dentro do grupo faz-se através de um servidor específico, pelo que os membros nem se conhecem pessoalmente. “Queremos simplesmente ajudar”, ressalva Jorge.
Depois do trabalho do passado fim-de-semana, caíram elogios dos parceiros estrangeiros, pelo que a conta está agora no "processo de filiação" para integrar formalmente a rede internacional. Para o futuro, fica a garantia que vão "estar alerta". E prontos para partilhar informação.