Por agora não há vítimas mortais resultantes da tempestade Leslie

Há duas pessoas que morreram de morte súbita, incluindo a vítima de Montemor-o-Velho cuja morte foi inicialmente atribuída a uma queda de árvore. Registaram-se mais de 1200 quedas de árvores em todo o país e mais de 320 mil pessoas foram afectadas pelos cortes de energia.

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Figueira da Foz,Figueira da Foz LUSA/PAULO NOVAIS,LUSA/PAULO NOVAIS
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Lisboa Reuters/RAFAEL MARCHANTE
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Coimbra LUSA/PAULO NOVAIS
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Figueira da Foz LUSA/PAULO CUNHA

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) esclareceu na tarde deste domingo que até ao momento não há vítimas mortais resultantes dos estragos provocados pela tempestade Leslie. Uma fonte da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho tinha dado conta, à agência Lusa, de uma vítima mortal na sequência de uma queda de árvore em Amieiro, freguesia de Arazede. Mas o coordenador o INEM, Bruno Borges, indicou que afinal a vítima morreu de doença súbita, "aparentemente em paragem cardiorrespiratória", e "sem sinais de trauma".

O mesmo aconteceu, disse a mesma fonte, com outra vítima mortal em Pampilhosa da Serra, um homem de 81 anos que foi encontrado morto à porta de casa. Bruno Borges sublinhou que os óbitos foram declarados nos locais por duas equipas médicas do INEM.

A passagem da tempestade Leslie pelo território português provocou 27 feridos ligeiros, 61 desalojados e quase 1900 ocorrências comunicadas à Protecção Civil, de acordo com o balanço mais actualizado desta autoridade. O distrito de Coimbra foi o mais afectado e Soure decretou calamidade pública depois de 90% das habitações terem sofrido danos.

Dos 61 desalojados registados, 57 são do distrito de Coimbra, um de Leiria e três de Viseu. A Figueira da Foz foi particularmente atingida, com avultados prejuízos materiais, nomeadamente em carros, habitações e estabelecimentos comerciais. Exemplo disso é o parque de campismo do Cabedelo, na Figueira da Foz, em que a tempestade provocou vários feridos e danificou ou destruiu cerca de 80 rulotes e foi emitida uma ordem de evacuação.

Rajada de vento na Figueira da Foz foi a maior de sempre

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indicou até que os cerca de 176 quilómetros por hora de uma rajada de vento na Figueira da Foz foi o valor mais elevado registado em Portugal. Numa nota publicada no site, o IPMA adianta que a estação de Figueira da Foz/Vila Verde registou às 22h40 de sábado uma rajada de cerca de 176 quilómetros por hora, valor atribuído a um fenómeno designado por "sting jet".

O IPMA frisa que a rajada observada no sábado na Figueira da Foz constitui o valor "mais elevado registado em estações da rede meteorológica nacional", sendo o máximo anterior de 169 quilómetros por hora, a 17 de Outubro de 2015. O IPMA explica ainda que o "sting jet" é uma forte corrente descendente que, por vezes, se desenvolve no bordo oeste de depressões extratropicais, podendo alcançar a superfície. Nestes casos, as rajadas podem ser superiores a 150 quilómetros por hora numa área reduzida, tipicamente situada a sudoeste do núcleo da depressão.

Relata a Lusa que, no parque, situado na margem sul do rio Mondego, junto à praia do Cabedelo e molhe sul do porto da Figueira da Foz, são visíveis os estragos provocados pelo mau tempo que atingiu aquela região na noite de sábado, com pelo menos quatro rulotes que "voaram" por cima da vedação e aterraram, completamente destruídas, a cerca de 100 metros de distância na estrada anexa, e outras dezenas danificadas no interior do espaço, constatou a agência Lusa no local.

"Estimo que devem estar cerca de 80 rulotes viradas. Alguns deles [dos campistas] estavam envolvidos nas rulotes, tivemos de os tirar para fora e batemos rulote a rulote para tirar as pessoas", disse à agência Lusa Tiago Cadima, concessionário do restaurante do parque de campismo. Segundo Tiago Cadima, "quatro a cinco pessoas" ficaram feridas, com ferimentos considerados ligeiros: "um tinha um braço partido, outros contusões na cabeça e no corpo e também era mais o susto de alguns, porque têm uma idade avançada", sublinhou.

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Figueira da Foz Paulo Novais/Lusa

Na segunda-feira não haverá aulas em nenhum nível de ensino no concelho da Figueira da Foz, por questões de segurança, indicou à Lusa o vereador da Educação do concelho, Nuno Gonçalves. 

Circulação automóvel condicionada e falhas de energia

 A circulação dos autocarros dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) está também "gravemente condicionada". "A circulação normal será retomada progressivamente à medida que forem repostas as condições de segurança. Agradecemos a melhor compreensão da população", lê-se numa curta nota informativa, citada pela Lusa. 

Também a torre emissora da Rádio Universidade de Coimbra (RUC), de 66 metros, ficou "completamente danificada" com a tempestade, informou a direcção da rádio, que estima um prejuízo de 30 mil euros numa rádio que é composta e gerida maioritariamente por estudantes universitários de forma voluntária. A emissão continua a ser transmitida online.

Do total de 1890 ocorrências registadas durante a noite em todo o país, 1218 deveram-se a quedas de árvores, 53 a movimentos de massas, 98 a inundações, 441 a quedas de estruturas e 65 a limpezas de vias.

A Protecção Civil decidiu manter o alerta amarelo em Portugal continental até às 00h de segunda-feira, por haver estruturas que podem cair e "muito trabalho para limpar". Apesar da decisão de manter activo o segundo alerta mais grave, os dados meteorológicos fazem antever que a situação irá melhorar progressivamente, disse o comandante nacional da ANPC, Duarte da Costa, explicando que se espera para este domingo "vento intenso e períodos de chuva" e que há árvores e infra-estruturas que sofreram danos durante o temporal que poderão ainda cair.

Centenas de milhares de clientes a Norte do Tejo ficaram sem energia eléctrica durante a noite de sábado devido aos danos causados pela tempestade tropical Leslie, disse à agência Lusa a EDP Distribuição, classificando a situação de "muito grave". De acordo com o último briefing da Protecção Civil, os cortes de energia afectaram mais de 320 mil pessoas. Neste momento, segundo a EDP há mais de 100 mil pessoas sem electricidade, sendo que o litoral de Coimbra e a zona do Louriçal, em Pombal, são as zonas mais afectadas pelos cortes de energia.

A EDP Distribuição informou ainda que a tempestade deixou cerca de 200 linhas de alta/média tensão fora de serviço e milhares de habitações sem energia eléctrica. Em comunicado, citado pela Lusa, a empresa refere que na passagem por Portugal a tempestade "afectou fortemente" a rede de distribuição de electricidade no Litoral e Norte do país.

A EDP Distribuição, que activou o estado de alerta reforçando as equipas operacionais de prevenção às 18h de sábado, indica que "mais de 500 operacionais trabalharam durante a madrugada e continuam no terreno para reparação de avarias". Apesar das "condições adversas", como "estradas cortadas, árvores caídas e o forte vento" que "dificultam a execução das operações", "parte da rede" já foi resposta, segundo o comunicado.

No entanto, a empresa adianta que, "face à dimensão dos danos verificados, crê-se que será um trabalho moroso, para os próximos dias" e que "serão adoptadas soluções temporárias com instalação de geradores de emergência nas situações mais críticas". Os danos provocados pela passagem da tempestade, refere a empresa, são "muito significativos" e não há ainda data para a conclusão dos trabalhos.

Soure decreta calamidade pública após danos em 90% das habitações

Noventa por cento das habitações de oito das dez freguesias de Soure sofreram danos na sequência do furacão Leslie, que atingiu a região Centro, disse o presidente da câmara, que vai decretar estado de calamidade pública no concelho. Mário Jorge Nunes disse à agência Lusa que quatro famílias já foram realojadas em casas de familiares e que estão a sensibilizar uma pessoa para ser encaminhada para um lar ou para uma unidade hoteleira.

"O grande problema neste momento é a energia eléctrica, porque a EDP não sabe quando poderá retomar o fornecimento. Em 2013, numa situação um pouco semelhante, estivemos quatro dias sem electricidade", recordou. Mário Jorge Nunes indicou ainda a ausência de comunicações como um problema e especificou que o abastecimento de água também está comprometido. "Estamos a tentar servir energia eléctrica às captações de água". Além dos diversos prejuízos em instalações particulares, registo ainda para a cobertura destruída de vários pavilhões municipais, assim como de coberturas em escolas.