Director clínico do hospital de Gaia faz ultimato ao Governo para que obras estejam inscritas no OE

Se a verba para as obras no hospital de Gaia não estiver prevista no Orçamento do Estado para 2019, os médicos já demissionários concretizam a saída. O prazo, diz o director clínico, termina no dia da apresentação do Orçamento.

Foto
Nelson Garrido

Depois do pedido de demissão em bloco no início de Setembro, o director clínico do hospital de Gaia coloca agora a pressão sobre o Governo. Ou é inscrita no Orçamento do Estado a verba para as obras desta unidade – “pelo menos 50 milhões de euros” – ou os médicos demissionários vão mesmo sair, afirmou José Moreira da Silva à TSF.

Na sequência da notícia, o director clínico convocou uma conferência de imprensa, para o início da tarde desta terça-feira, onde esclareceu que, "a partir de dia 15 de Outubro [data de entrega do Orçamento do Estado] se não vier lá algo para o Centro Hospitalar" a sua decisão será abandonar o cargo. "Falo por mim, não pelos outros, mas atenção que não abandono o hospital, nem a sua gestão", afirmou José Moreira da Silva.

O clínico salientou que, se no orçamento não vier inscrita a verba necessária para as obras a realizar no hospital, cerca de 50 milhões de euros, irá reunir com os restantes 51 directores, chefes de serviço e de departamento que a 5 de Setembro apresentaram o pedido de demissão para tomar uma decisão, deixando claro que a sua intenção será demitir-se de funções.

José Moreira da Silva sustentou que o "alerta" não é apenas feito ao Governo, mas sim a todos os partidos políticos e deputados da Assembleia da República.

Os médicos demissionários justificaram o recurso à demissão com a falta de condições nos serviços do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), o que terá efeitos no aumento dos tempos de espera e deterioramento dos cuidados. Apontam a falta de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar. E carências estruturais e de equipamento como, por exemplo, o facto de vários serviços, com duas a três dezenas de camas, terem apenas uma casa de banho para pacientes.

Os ministros da Saúde e das Finanças e o primeiro-ministro “têm de ver se o Grande Porto merece ou não uma situação destas”, disse o director clínico à TSF. Moreira da Silva sublinhou também que a contestação interna vai além meia centena de demissionários: cerca de 300 médicos, "solidários com os demissionários", assinaram um abaixo-assinado para entregar ao bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, no final desta semana ou início da próxima.

Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde recusou comentar.

"Problema burocrático" na demissão

Já na conferência de imprensa, questionado pelos jornalistas sobre se entregou ou não um pedido formal de demissão, depois de o presidente do Conselho de Administração do centro hospitalar ter vincado nunca ter recebido nada a não ser uma carta sem remetente e destinatário, o director clínico assumiu que houve um "problema burocrático".

"Nós apresentamos um pedido conjunto de demissão, mas pelos vistos não foi um ofício considerado normal. Nós entendemos que o ofício era normal e eles entenderam que não era normal, portanto, apesar de estar demissionários, não estamos demissionários", disse.

Admitindo que "não existe, de facto, um ofício a solicitar a demissão", José Moreira da Silva assumiu que o pedido deveria ter sido entregue com remetente e destinatário, o que não aconteceu.

"Não existe um ofício a solicitar a demissão, ao contrário do que foi enviado ao ministro da Saúde, secretário de Estado da Saúde e Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte com o nome de todos os demissionários", vincou.

A carta de demissão dos 52 médicos do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho foi redigida em Julho, altura em que ponderaram demitir-se, mas só no início de Setembro concretizaram essa intenção.

No início de Julho, o presidente do conselho de administração, António Dias Alves, anunciou o arranque da segunda fase das obras do edifício que irá receber a urgência. Avaliada em 16 milhões de euros, a empreitada tem um prazo de 350 dias para estar concluída. Entretanto, em Agosto, o Governo autorizou o arranque da terceira fase das obras.