Fábrica de bagaço de azeitona é um risco para quem respira lá perto

Ambiente diz que emissões libertadas pela empresa em Fortes, Ferreira do Alentejo, violam todos os valores de segurança e de risco.

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Daniel Rocha

As conclusões do relatório técnico das análises efectuadas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) à avaliação da qualidade do ar atmosférico na pequena aldeia de Fortes, afectado pela laboração de uma fábrica de bagaço de azeitona propriedade da empresa espanhola Azpo - Azeites de Portugal, reflectem a real dimensão do desastre ambiental que ali prevalece há quase uma década: O valor do Índice da Qualidade do Ar que a população, maioritariamente idosa, respira “é classificado de Mau e viola todos os valores de segurança e de risco atribuídos pela legislação europeia e pela organização Mundial de Saúde”, sublinha o estudo da APA.

Precisando o teor da conclusão, esta entidade acrescenta que no período que decorreu entre 1 de Junho e 12 de Junho de 2018 foram monitorizados na atmosfera, a cerca de 200 metros da instalação industrial Azpo, “poluentes químicos associados a emissões confinadas e difusas”.

Da análise efectuada à composição química das partículas libertadas pela actividade da fábrica de bagaço de azeitona, a APA identificou a presença de “monóxido de carbono, dióxido de enxofre, compostos cancerígenos (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos) e outros gases (amoníaco, ácido sulfídrico e sulfureto de metilo”.

No entanto, as substâncias presentes nos maus cheiros resultantes das “emissões de compostos associados essencialmente a ácidos gordos” não foram identificadas “porque tal não faz parte do estudo de avaliação”, refere o relatório da APA

O estudo concentrou-se na avaliação da qualidade do ar nas zonas públicasnas proximidades da fábrica, “não tendo sido direccionada recolha de informação sobre o processo de fabrico da unidade, o licenciamento, a conformidade legal com valores limite das emissões, etc.”

Refere ainda que os níveis de poluição a que a população de Fortes está exposta, “exigem medidas de monitorização permanentes para salvaguarda da saúde pública”, assume a APA, garantindo ser uma “evidência” que a poluição “é proveniente da instalação em causa.”

Numa alusão à presença de substâncias cancerígenas que se confirmou estarem presentes nas partículas atmosféricas, a APA observa que não dispõe de informação sobre este tipo de concentrações “durante o tempo integral de laboração da unidade industrial”, sugerindo a monitorização destas substâncias no futuro.

Reagindo ao relatório divulgado pela APA, a Associação Ambiental de Amigos das Fortes (AAAF) refere que o documento “vem confirmar as legítimas e justas preocupações sobre a qualidade do ar uma vez que deram resultado de Mau nos parâmetros avaliados.”

Na sequência da divulgação dos resultados do relatório da APA, a AAAF exige estar presente durante a inspecção que as entidades oficiais vão efectuar à unidade industrial da Azpo no próximo dia 10 de Outubro, “e nos demais acontecimentos e reuniões que impliquem esta unidade fabril”, para que “a população seja informada dos resultados”.

Antecipando-se à divulgação dos resultados do estudo da APA, a empresa proprietária da Azpo justificou a poluição produzida pela unidade industrial imputando-a “uma avaria pontual, fruto de um acto isolado, que nunca tinha sucedido”.

A Azpo foi intimada pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e Inovação (IAPMEI) a suspender a actividade, alegando-se que a empresa tinha “violado normas estabelecidas na licença de exploração, prática que redundou na aplicação de três contra ordenações graves”, nomeadamente por “emissões fora dos limites da lei”. A decisão do IAPMEI surge a 5 de Junho, no dia a seguir ao encerramento da actividade da Azpo, que acontece todos os anos.

Entretanto, a empresa diz ter concluído “um ambicioso plano de investimento na sua fábrica, de cerca de um milhão de euros”, na renovação dos equipamentos e instalações para continuar a adquirir a produção dos agricultores do Alentejo que fornecem a fábrica. A Azpo diz que transforma “cerca de 33% de toda a produção de bagaço de azeitona do Alentejo, num total de 200.000 mil hectares de olival” e que toda a produção se destina ao mercado externo.

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