Um passe de mágica e... Jean-François Stévenin no Doclisboa

Passe Montagne (1978), Doubles Messieurs (1986) e Mischka (2002), os seus três únicos filmes como realizador, são travessias da França, mapas de caminhos alternativos por montes e vales, e são passes de mágica. Vai ser uma aventura na secção Riscos do Doclisboa.

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Mischka (2002)

Nascido em 1944, filho de pais severos (mas cinéfilos...), a Jean-François Stévenin eram permitidas duas evasões em criança: o cinema (apenas um filme por semana...) e caminhar. Passe Montagne (1978), Doubles Messieurs (1986) e Mischka (2002), os seus três únicos filmes como realizador, são travessias da França, mapas de caminhos alternativos por montes e vales, e são passes de mágica. A mão entrava dentro do genérico inicial e nascia um filme, Mischka, sobre famílias e afectos nas auto-estradas francesas no Verão, mas todos eles (oiça-se Stévenin falar do que desejam os genéricos iniciais e finais dos seus filmes) são experiências físicas de deslocação, fuga e reencontro que iniciam o espectador à aventura. E todos eles lamentam quando o parêntesis se fecha, desejariam continuar. Mas durante a experiência, e isso passa-se em cada um dos lados do ecrã, famílias foram adoptadas.

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Mischka (2002), Doubles Messieurs (1986) e Passe Montagne (1978): travessias da França, mapas de caminhos alternativos por montes e vales, passes de mágica Sagamore / DR
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É este senhor, assistente de Truffaut (Domicílio Conjugal, 1970; A Noite Americana, 1973), de Rivette (Out 1: Noli me Tangere, 1971) ou de Alain Cavalier, actor para a nouvelle vague (L’Argent de Poche foi decisivo para a sua carreira) mas também para Téchiné, Blier ou Jacques Démy e para o cinema comercial (voracidade estilo Depardieu), que estará em foco na secção Riscos do Doclisboa. Pelos filmes, raros, belíssimos, que realizou. Onde se manteve inclassificável.

Passe Montagne (1978), Doubles Messieurs (1986) e Mischka (2002) foram restaurados e regressaram às salas francesas este ano. O Doc permite que os descubramos ou regressemos a eles. Note-se: é quase um filme por década, cada um realizado num momento diferente da vida do realizador, um quando estava nos 30 anos, outro nos seus 40 e o último já nos seus 50 anos. Dizia-nos o realizador no ano da estreia de Mischka: “Não consigo filmar argumentos dos outros. Tem de haver um desejo muito grande, e nesse aspecto sou muito, muito lento. Preciso de dois, três anos para escrever um argumento, preciso de observar as pessoas, o comportamento delas. Há também o medo. O medo da produção. Em cada filme, há sempre um momento em que sentimos que o projecto pode estar à beira de acabar. Sempre que há um filme a fazer, tem de se passar por isso e não gosto de voltar a experimentar isso. É um pesadelo.”

O Doclisboa anunciará quarta-feira, dia 3 de Outubro, em conferência de imprensa, toda a programação para a edição deste ano, que se realiza de 18 a 28 de Outubro. Onde há 18 títulos na competição nacional e 22 na competição internacional - todos, revela Cíntia Gil, estreias mundiais ou estreias internacionais, algo que se foi impondo no processo de construção do programa mas que, segundo a directora do Doc, revela o prestígio que o festival goza junto dos cineastas, estes reconhecendo um “parceiro de corrida” num festival “que tem feito uma programação bastante arriscada, descolando do documentário puro e duro”. Já foi anunciada a secção Heart Beat, que apresenta filmes, personagens e histórias de todas as artes - por exemplo, Vivienne Westwood, Depeche Mode ou William Friedkin – e a secção Da Terra à Lua, onde estarão os novos de Rithy Panh e Frederick Wiseman: Monrovia, Indiana, o quotidiano nos campos, na igreja, no ginásio, nos casamentos e funerais de uma comunidade rural de 1400 habitantes, cumpridora dos rituais religiosos, certamente republicana e a sentir-se a milhas do estilo de vida das grandes cidades das costas Leste e Oeste - forma muto silenciosa e generosa de abraçar uma América fracturada.

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