Leiria a Capital
A candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura faz todo o sentido se o projecto assumir uma escala regional.
Portugal volta a ter uma cidade Capital Europeia da Cultura, em 2027. A cidade de Leiria é candidata a acolher o maior evento cultural da Europa. Esta candidatura faz todo o sentido se o projecto assumir uma escala regional. Na verdade, o alto valor e a diversidade do Património Cultural – material, natural e imaterial – e, bem assim, de criação contemporânea, constituem fortes potencialidades da região de Leiria.
A História deste território está ligada ao reconhecimento e à afirmação da nacionalidade portuguesa. Uma simbologia materializada nos dois monumentos inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO, por constituírem obras-primas do génio criador humano. Aludimos ao Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, pertencente à Ordem de Cister, e ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, pertencente à Ordem Dominicana. Enquanto o primeiro complexo cenobítico está ligado à fundação da nacionalidade portuguesa e ao reconhecimento da independência de Portugal pela Santa Sé, em 1179, o segundo está associado à afirmação da independência de Portugal. Em bom rigor, a vitória portuguesa sobre Castela na Batalha de Aljubarrota, em 1385, foi um dos triunfos mais importantes da História de Portugal e determinou a construção do cenóbio. Os dois monumentos constituem panteões régios, onde estão sepultados alguns dos monarcas da primeira e da segunda dinastias. No Mosteiro de Alcobaça, jazem os restos mortais de D. Pedro I e D. Inês de Castro. Os seus sarcófagos são considerados expoentes máximos da tumulária medieval portuguesa e europeia.
Ainda na proximidade da região de Leiria, em Tomar, ergue-se o Convento de Cristo. Também este monumento integra a Lista do Património Mundial da UNESCO, e agrega alguns dos mais expressivos testemunhos da história da arquitectura portuguesa, como a charola românica da igreja, o claustro de D. João III e a famosa janela manuelina da sala do capítulo.
A riqueza em património histórico edificado na região de Leiria não se esgota nos monumentos inscritos na Lista do Património Mundial, relevamos um conjunto de outras casas monásticas como o Convento do Louriçal, o Convento de Nossa Senhora do Cardal (Pombal), os Conventos de Santo Agostinho e de São Francisco (Leiria) e o Mosteiro de Santa Maria de Cós (Cós – Alcobaça). É também digna de referência a multiplicidade de espaços eclesiais referentes a todas as épocas, e dotados de programas arquitectónicos e decorativos diversificados. Referimos, neste âmbito, a Sé Catedral de Leiria, bem como os diversos santuários marianos e cristológicos, implantados por toda a região de Leiria, como por exemplo: o Santuário de Fátima; o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré (Nazaré); o Santuário dos Milagres (Leiria); o Santuário de Nossa Senhora da Encarnação (Leiria); o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios (Figueiró dos Vinhos); a Ermida/Santuário da Senhora do Fetal (Reguengo do Fetal); o Santuário do Bom Jesus do Carvalhal (Bombarral); a Capela/Santuário de Nossa Senhora da Luz (Castanheira-Alcobaça); o Santuário do Senhor Jesus da Pedra (Óbidos); e o Santuário da Senhora dos Remédios (Peniche). Naturalmente, aos santuários estão associadas manifestações de devoção – romarias, procissões, círios – e festividades pagãs, que enriquecem o património imaterial da região.
Existem ainda muitas outras igrejas, capelas e ermidas dignas de registo pelo elevado valor histórico-arquitectónico e de memória, entre as quais salientamos a Igreja de São Gião, na Nazaré, por ser um dos templos cristãos mais antigos em território nacional. Assinalamos também o conjunto de estruturas fortificadas implantadas na região como os castelos de Pombal, Leiria, Ourém, Tomar, Porto de Mós, Alcobaça, Óbidos e Atouguia da Baleia; constituem lugares de memória, associados ao processo da reconquista cristã, bem como ao crescimento, desenvolvimento e afirmação do território português. Também nos concelhos da orla marítima, para além das belíssimas praias, apresenta-se um conjunto de fortificações como o Forte de São Miguel Arcanjo (Nazaré), a Fortaleza de São Francisco (Peniche), o Forte da Praia da Consolação e o Forte da Berlenga. Destaca-se igualmente uma rede museológica muito diversificada e complementar, abrangendo vários domínios do património cultural e industrial. Sobressaem ainda outros equipamentos de relevado interesse pedagógico-cultural como os centros de interpretação e as casas-museu.
No que concerne ao património natural e paisagístico, percorrendo o território de norte para sul e do interior para o litoral, permanecem os traços de riqueza e de diversidade; desde barragens, albufeiras, praias fluviais e lagoas, passando pelas aldeias de xisto e as serras da zona norte do distrito de Leiria. Aqui se descobrem lugares de admirável beleza natural e de importância arqueológica significativa, onde destacamos o complexo megalítico do Ramalhal, o povoado da Idade do Bronze na Serra de Alvaiázere e a villa romana da Rominha. Esta última integra o território PROVERE Villa Sicó, respeitante aos concelhos de Alvaiázere, Ansião, Penela, Pombal, Condeixa-a-Nova, Soure e Tomar. Caminhando para sul, a nascente, avista-se o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, outra jóia da região de Leiria. Entretanto, se deixarmos a serra e avançarmos até ao mar, descobrimos belos e extensos areais que se alongam desde a Praia do Pedrógão até Peniche. No mar, as ondas gigantes exercem um intenso fascínio. A Praia do Norte, na Nazaré, é paragem obrigatória para surfistas de todo o mundo.
Existem lugares, sítios, praças, jardins, monumentos, praias, parques naturais e arqueológicos, equipamentos culturais de criação contemporânea, onde se pode levar a efeito um programa cultural com amplo e alargado carácter. Falamos de um programa de feição intercultural, inclusivo, intergeracional, transversal e interdisciplinar que facilite o encontro de cidadãos de diversas culturas e reforce o sentimento de cidadania europeia, promova a cultura como factor de desenvolvimento; permitindo que a região de Leiria se afirme como um destino de turismo cultural de qualidade, mesmo nas zonas de baixa densidade. Naturalmente, trata-se de um projecto que deve fomentar a ligação com as periferias geográficas e sociais. Mencionamos a importância da interacção cultural com a população dos territórios mais afectados pelos incêndios, em 2017; como Castanheira de Pêra, Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos. Um programa cultural com o carácter supramencionado só pode ser de elevada qualidade. Na realidade, já existem na região de Leiria eventos de cariz internacional, multicultural e interdisciplinar que, ano após ano, têm vindo a marcar positivamente o calendário cultural da região e do país, como por exemplo: os festivais literários, de música, de teatro, de cinema, de artes performativas, de folclore, de artes de rua, de estátuas vivas; as mostras gastronómicas e de doces conventuais; as festas e recriações de índole histórica. Também existem indústrias culturais e criativas com crescente reconhecimento internacional. Convém ainda lembrar o potencial de juventude, de dinamismo e de criatividade que o Instituto Politécnico de Leiria confere à cidade e à sua região; relevando-se a importância do núcleo criativo da Escola Superior de Artes e Design, em Caldas da Rainha, bem como a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche.
Em síntese, a diversidade da região de Leiria é passível de enriquecer o projecto cultural mais importante da Europa. A riqueza em património edificado, natural e imaterial, e de criação contemporânea constituiu uma alavanca fundamental para a implementação de um programa cultural de elevada qualidade. Falamos de um projecto que seja incorporado na dinâmica da região como um compromisso de longo prazo, envolvendo o poder político e os cidadãos residentes. Em bom rigor, consideramos que a cidade de Leiria e a sua região apresentam excelentes condições para constituírem um espaço cultural comum dos cidadãos europeus.