Lobos-ibéricos são fiéis à sua “terra natal”

Cientistas portugueses referem num novo artigo científico que a população de lobos-ibéricos está fragmentada em múltiplas subpopulações, mas que há pouca dispersão e grande diferenciação genética entre elas.

Foto
O lobo-ibérico, Canis lupus Raquel Godinho

A população de lobos-ibéricos é “pouco aventureira” e não abandona a região onde nasceu, ou seja, é fiel à sua terra natal. Esta é a conclusão de um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica Scientific Reports, que foi desenvolvido por uma equipa de cientistas do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-Inbio), no Porto. 

De acordo com um comunicado do Cibio-Inbio, o estudo – que combinou análises de ADN da espécie e dados de localização dos lobos – indica que a população de lobos-ibéricos se fragmenta em múltiplas subpopulações e que “há pouca dispersão” e “grande diferenciação genética entre elas”.

No comunicado, o centro de investigação explica que, ao longo de duas décadas, a equipa de investigação, em parceria com a Universidade de Oviedo (Espanha), conseguiu “identificar 11 grupos genéticos distintos em toda a área de distribuição desta espécie na Península Ibérica (cerca de 140 mil quilómetros quadrados).” Além disso, acrescenta-se: “O resultado é um conjunto de pequenas populações mais isoladas e heterogéneas do que o esperado.”

Pedro Silva, investigador do Cibio-Inbio e primeiro autor do trabalho, citado no comunicado, refere: “Dada a história recente de fragmentação e declínio do lobo na Península Ibérica, esperávamos que possíveis sinais de estrutura populacional se reflectissem na genética.” Contudo, os resultados mostraram “baixos níveis de transferência de genes e curtas distâncias de dispersão”, adianta o cientista. 

No comunicado, indica-se ainda que “este comportamento peculiar” pode estar “condicionado por uma interacção complexa de condições ecológicas e ambientais” relacionadas com a falta de disponibilidade de presas ou até com a “pressão humana”.

A investigadora Raquel Godinho, também autora do estudo e membro do Cibio-Inbio, salienta que “as populações de lobo-ibérico têm sido afectadas durante séculos pela perseguição humana e por mudanças de habitat de carácter antropogénico, e, ao contrário do resto da Europa, em alguns locais da Península Ibérica o lobo não está em expansão”.

Pedro Silva acrescenta que a investigação “levanta algumas hipóteses que carecem de estudos mais aprofundados”, mas considera que os resultados do estudo, agora tornados públicos, “abrem caminho para um debate importante”, assim como para a “definição de políticas de conservação e gestão do lobo na Península Ibérica”.