Os U2 trazem consigo a Europa, o último álbum, um cenário único e Ana Moura

Teremos política com o estado da Europa em destaque. Um palco singular. A presença de Ana Moura. E as canções do último álbum misturadas com os êxitos do passado. Os U2 estão na cidade para concertos em Lisboa este domingo e segunda-feira.

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U2 na digressão Experience + Innocence DANNY NORTH
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Já se sabe. Um concerto dos U2 é sempre uma mistura de música, jogo cénico onde se recorre às mais recentes tecnologias e também um acto político. Os deste domingo e segunda-feira, no Altice Arena de Lisboa, não serão diferentes. Num mundo cada vez mais cínico continuam humanistas, apesar de muitos lhes atirarem à cara que ser-se idealista e uma das bandas mais ricas do mundo pode constituir uma contradição. Bono riposta que paradoxo é querer mudar o sistema a partir de fora. “Posso frequentar os corredores do poder, mas não deixo de ser eu próprio por causa disso”, argumentava há anos. A verdade é esta. Os U2 são enormes em tudo. No número de admiradores. Mas também nos detractores.

Não deixam quase ninguém indiferente. É por isso que deixam rasto por onde passam. Esta será a sexta vez dos U2 em Portugal, oito anos depois de dois concertos lotados no Estádio Cidade de Coimbra em 2010, de três actuações no Estádio de Alvalade em Lisboa (1993, 1997 e 2005) e da presença no festival Vilar de Mouros de 1982. As últimas grandes digressões do grupo não passaram pelo país – com destaque para a Innocence + Experience de 2015 e a do ano passado em torno de The Joshua Tree (1987) e que o PÚBLICO viu em Barcelona – sendo por isso natural o entusiasmo, com bilhetes a serem disputados, até porque será também a primeira vez que se mostrarão num espaço fechado por aqui.

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O que pode gerar um tipo de envolvimento diferente do que num estádio. Mas sejamos justos. Nós que já os vimos em diferentes contextos, nesse plano em particular, nunca nos desiludimos. É como se conseguissem transformar qualquer local na sua sala de estar. Os U2 não desistem de apresentar espectáculos cenicamente e tecnologicamente desafiantes. Produzem com sofisticação, mas para transmitir simplicidade e grande eficácia, independentemente dos palcos. Em Lisboa acontecerá o mesmo, havendo um cenário com múltiplos palcos, um sistema de som inovador e um novo ecrã de elevada resolução. E claro, depois, haverá a música.

O último álbum do grupo, o 14º de estúdio, Songs of Experience (2017), esteve longe de entusiasmar na plenitude, mas será esse registo a atribuir sentido à digressão Experience + Innocence que agora passa por Portugal. Depois de concertos nos Estados Unidos, o grupo iniciou a ronda europeia a 31 de Agosto em Berlim, num concerto marcado pela perda da voz de Bono. O problema foi superado e desde então têm-se sucedido os espectáculos com o grupo a reflectir e ao mesmo tempo a celebrar a Europa enquanto entidade política e cultural, num momento histórico em que a União Europeia sofre muitos reveses, não só com o “Brexit”, mas também com a maior visibilidade da extrema-direita em alguns países.

Não é, aliás, por acaso que o concerto se iniciará com imagens de O Grande Ditador (1940), o filme satírico de Charlie Chaplin, havendo também registos captados, entre 1926 e 1946, de algumas cidades europeias em ruínas – ou seja, o passado da Europa, o ambiente sociopolítico que se respira actualmente e o seu futuro irão estar em destaque num espectáculo em que deverão tocar cerca de 20 canções.

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Na actualidade os U2 até se podiam dar ao luxo de não gravar discos, limitando-se a ser adulados pelo seu passado. Mas eles preferem expor-se. Não se querem esconder apenas atrás do sucesso. É por isso que se fará ouvir uma mistura de presente e passado, prescindindo o grupo nesta digressão de tocar sucessos tão transversais como Bad, With or without you, I still haven’t found what i’m looking for ou Where the streets have no name, que foi sempre um dos pontos altos das digressões das últimas décadas. Mas se repetirem o alinhamento dos concertos recentes de Paris far-se-ão ouvir canções como Beautiful day, Elevation, Sunday bloody Sunday, I will follow, Until the end of the world, Pride (In the name of love), New year’s day ou City of blinding lights. A abrir têm apresentado The blackout e a fechar 13 (There is a light), ambas do último álbum.

Ana Moura e Poverty Is Sexist

Um dos momentos altos promete acontecer quando a cantora portuguesa Ana Moura, convidada pelo grupo, irromper em cena, o que acontecerá na altura em que for transmitido o vídeo de um coro que canta Women of the world, de Ivor Cutler, integrada na campanha Poverty Is Sexist, onde é feita a associação entre desigualdade de género e pobreza extrema.

De resto o grupo está em Lisboa desde sexta-feira. Eles e todo o aparato que um evento deste género desencadeia, com 120 pessoas e 31 camiões, para suportarem o cenário que irá contemplar dois palcos (um deles em forma rectangular e o outro circular) e uma passadeira que os une, sobre a qual estará disposta o ecrã gigante. Tudo a postos, portanto. Faça-se ouvir a música.

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