França quer fazer das eleições europeias um novo duelo Macron-Le Pen

Sondagem aponta para empate entre o partido do Presidente e a extrema-direita e faz antever batalha entre pró-europeus e eurocépticos em Maio de 2019.

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Macron e Le Pen disputaram eleição presidencial francesa em 2017 Reuters/POOL

O combate eleitoral entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen deverá ter mais um capítulo, dois anos depois de terem disputado nas urnas a vaga no Palácio do Eliseu. Os seus respectivos partidos estão praticamente empatados nas intenções de voto para as eleições europeias de Maio de 2019, fazendo antever nova batalha ideológica e programática em França, desta vez com a Europa como pano de fundo.

De acordo com a sondagem do instituto Odoxa Dentsu, divulgada esta sexta-feira pelo jornal Le Figaro e pela rádio France Info, entre A República em Marcha (LREM) e o Reagrupamento Nacional (RN) – a antiga Frente Nacional – distam apenas 0,5 pontos percentuais: o partido de Macron acolhe 21,5% e o de Le Pen 21%.

Números insatisfatórios para a LREM que, depois do triunfo presidencial de Macron e da conquista da Assembleia Nacional em 2017, após votações categóricas, parece estar a ser contaminada pela quebra de popularidade e algum desencanto do eleitorado com o Presidente. O partido que concorrerá ao Parlamento Europeu em conjunto com o MoDem desce quase 7% em relação a uma sondagem Ifop realizada em Maio.

Já a plataforma de extrema-direita sobe 3% em quatro meses. Mesmo sem protagonizar uma oposição interna de grande destaque, a RN beneficia bastante do facto de o debate francês – e não só – sobre a Europa se ter reduzido, nos últimos anos, a um autêntico duelo entre pró-europeus e eurocépticos, disputado à volta de temas como a globalização, a imigração ou a integração.

Foi em representação do segundo grupo que a Frente Nacional venceu as europeias de 2014, beneficiando do facto de, ao contrário do sistema eleitoral francês, a corrida a Estrasburgo não implicar segundas voltas.

O balizamento do debate europeu ganhou ainda mais sentido com Macron e até tem sido alimentado pelo próprio. Com a chanceler alemã, Angela Merkel, em fim de ciclo, o Presidente francês tem procurado assumir-se dentro e fora de portas como o expoente máximo de uma União Europeia mais integrada, mais ambiciosa e progressista, em contraposição com os representantes da vaga nacionalista e pessimista que tem varrido o continente e feito tremer a organização.

“Ou se é a favor ou se é contra a Europa. Ou se é Orbán [primeiro-ministro húngaro] ou se é Macron. Essa projecção europeia está a reflectir-se no voto nacional”, sintetiza o jornalista Christophe Barbie na BFMTV.

Para liderar os próximos passos da UE pós-“Brexit” e executar os seus planos de reforma da zona euro, Macron precisa que a LREM tenha um bom resultado em 2019. A possibilidade de os partidos que compõem o Partido Popular Europeu (PPE) se virem a dividir entre pró e anti-integração europeia, aliada à expectável redução do peso da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, obrigará a uma remodelação do jogo de forças em Estrasburgo. E a LREM quer ser uma solução credível nas negociações que se adivinham, liderando um eventual bloco centrista que legitime as aspirações do seu líder.

Ao Figaro, um assessor de Macron assume que a LREM está atenta a um cenário de fragmentação do Parlamento Europeu com origens na divisão do PPE: “Os partidos que o compõem não estão alinhados ideologicamente. Há um fosso entre Merkel e Orbán.”

A desunião do PPE ficou bem patente na recente votação para a abertura de um processo no Conselho Europeu para punir deriva autoritária húngara. Muitos eurodeputados do grupo que integra o Fidesz, de Viktor Orbán, votaram a favor da aplicação do artigo 7.º do Tratado da União Europeia. E até os representantes dos Republicanos franceses se dividiram entre votos contrários, favoráveis e abstenções.

O partido herdeiro da direita tradicional francesa foi um dos destaques negativos da sondagem do Odoxa Dentsu. Com 14% das intenções de voto, os Republicanos, agora guiados por Laurent Wauquiez, continuam a perder espaço para a LREM e para a extrema-direita no que à Europa diz respeito, e podem vir a perder 7% de eleitores em comparação com 2014.

À esquerda, segundo o estudo, o Partido Socialista mantém a sua dramática luta contra a insignificância política ao agregar apenas 4,5% dos apoios. Já a França Insubmissa (12,5%), de Jean-Luc Mélenchon, encontra-se dividida entre a incapacidade de capitalizar a impopularidade de Macron e a dificuldade em se assumir como o verdadeiro representante do eurocepticismo francês.

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