Mais de 3600 crianças vítimas de abusos por padres alemães

Inquérito interno revela que os padres abusadores eram normalmente deslocados para outras paróquias, sem enfrentar a justiça.

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Uma em cada seis vítimas foi violada Clodagh Kilcoyne/Arquivo

Pelo menos 3677 crianças foram vítimas de abusos sexuais por padres católicos na Alemanha. Os casos aconteceram entre 1946 e 2014 e envolveram pelo menos 1670 clérigos, alguns permanecem ainda em funções. As conclusões preliminares de um estudo encomendado pela Conferência Episcopal Alemã, que será apresentado no dia 25 de Setembro, foram divulgadas esta quarta-feira pela revista Spiegel.

A maioria das vítimas são rapazes menores de 13 anos. Num sexto de todos os casos registados, os abusos tiveram a forma de violação. A maioria das ocorrências nunca foi denunciada às autoridades. Apenas 38% dos agressores foram julgados e a maioria dos padres abusadores enfrentou apenas procedimentos disciplinares no seio da Igreja.

Os abusadores eram normalmente transferidos para outra paróquia sem que fosse explicado à comunidade o motivo da mudança, conclui a investigação conduzida em conjunto pelas universidades de Mannheim, Heidelberg e Giessen.

A investigação desenvolvida ao longo dos últimos quatro anos olhou para mais de 38 mil documentos de 27 dioceses alemãs. Os investigadores ressalvam que toda a documentação a que tiveram acesso foi “revista por pessoal diocesano ou por advogados designados pela diocese”. Além disso, muitos casos foram “destruídos ou manipulados”, dizem os autores do estudo.

Os investigadores alertam ainda que não existem razões que os levem a crer “que os abusos sexuais de crianças pelos clérigos da Igreja Católica seja um assunto do passado”.

“Sabemos a dimensão dos abusos sexuais que ficaram provados neste estudo. Estamos desiludidos e envergonhados”, comentou o bispo católico germânico Stephan Ackerman, numa nota enviada à revista alemã: “É deprimente e vergonhoso para nós.”

Celibato enquanto factor de risco?

Questionados sobre as razões para o elevado número de abusos identificados, os investigadores responderam com relutância, mas admitem que o celibato obrigatório pode ser “um potencial factor de risco”. 

No início de Agosto, depois de mais um escândalo de pedofilia que veio a público envolvendo padres nos Estados Unidos, o Papa publicou uma carta onde admitia "vergonha e arrependimento" face às sucessivas denúncias de abusos sexuais de crianças, condenando de forma veemente os crimes cometidos. Dias depois, o antigo núncio apostólico nos EUA, o arcebispo Carlo Maria Vigano, veio a público acusar o Papa de ele próprio ter mantido o silêncio sobre as denúncias. A acusação de Vigano está a ser apontada como uma estratégia do sector ultraconservador da Igreja Católica para expulsar o Papa Francisco da liderança da Igreja.

O Vaticano ainda não comentou as mais recentes revelações na Alemanha, mas a sua publicação coincide com a data em que o Papa Francisco convocou uma reunião sem precedentes, para a qual chamou bispos de todo o mundo para discutir a protecção de menores. A cimeira acontece entre 21 e 24 de Fevereiro de 2019, no Vaticano.

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