Os professores e as notícias da OCDE
Esticar a corda num contexto como o que a OCDE colocou em cima da mesa pode gerar danos de imagem que os professores vão ter de avaliar com muito cuidado.
É tentador analisar as conclusões do estudo Education at a Glance da OCDE e concluir que ele traz más notícias para as lutas laborais dos professores e dos seus sindicatos. Afinal, os professores, conclui o estudo, ganham em média mais 35% do que os outros profissionais com os mesmos níveis de qualificação profissional. Afinal, os salários no topo da carreira estão acima da média da OCDE e, como é sabido, a organização não é particularmente constituída por países de rendimentos baixos. Afinal ainda, o Estado aumentou a sua despesa na educação em 33% entre 2008 e 2013, ano em que Portugal atravessava o período mais duro da troika. Afinal, os professores não são os parentes pobres da função pública e a Educação tem sido objecto de particular atenção por parte dos sucessivos governos.
Durante toda esta terça-feira, muitas dezenas de professores insurgiram-se contra as conclusões do estudo da OCDE e acusaram o PÚBLICO de estar a promover uma campanha de desinformação. Muitos citavam os seus salários em concreto como uma forma de questionar a verosimilhança da notícia. Pode haver de facto alguns erros na informação de base que afectam de forma irremediável as conclusões do estudo, como sindicatos e professores trataram de revelar. Mas, mesmo que os cálculos da OCDE fossem absolutamente inquestionáveis, não haveria razão para grandes críticas. Pelo contrário: um país que paga bem aos seus professores merece todos os elogios.
A menos que... a menos que estas críticas se façam sentir num momento em que os professores se preparam para enfrentar o Governo numa luta laboral que ameaça a estabilidade do início do ano escolar. Os sindicatos sabem que uma batalha dessa dimensão só se ganha com o apoio da opinião pública. Ora, os cidadãos terão dificuldade em entender a justeza dessa luta, se souberem que os docentes são relativamente bem pagos e se suspeitarem que as suas exigências são incomportáveis para as finanças públicas. Saber que os professores ganham relativamente bem é sinal de que o país aposta na sua educação. Esticar a corda num contexto como o que a OCDE colocou em cima da mesa pode gerar danos de imagem que os professores vão ter de avaliar com muito cuidado.