Artistas internacionais apelam ao boicote da Eurovisão em Israel
José Mário Branco, Chullage, António-Pedro Vasconcelos, Tiago Rodrigues e Patrícia Portela são alguns dos signatários portugueses de uma carta também subscrita por nomes como Brian Eno, Alain Platel, Iann Martel, Ken Loach ou Aki Kaurismäki.
Um grupo de artistas internacionais apelou esta sexta-feira a um boicote à edição de 2019 da Eurovisão, caso esta se realize em Israel. Em causa está o tratamento, segundo os subscritores, do povo palestiniano por parte das autoridades israelitas.
Israel sagrou-se vencedora do concurso da Eurovisão deste ano, na final que decorreu em Lisboa, em Maio, e em que Toy, da cantora Netta Barzilai, foi o tema mais votado.
Os signatários do apelo incluem os músicos portugueses José Mário Branco, Francisco Fanhais e Chullage, o director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, que já tinha cancelado em Maio a sua presença num festival de teatro israelita, a dramaturga Patrícia Portela, o realizador António-Pedro Vasconcelos e o escritor José Luís Peixoto. Os outros nomes vão do romancista canadiano Yann Martel à actriz dinamarquesa Anne Marie Helger, passando pelo realizador finlandês Aki Kaurismäki. Os assinantes britânicos são compostos pelos músicos Brian Eno e Roger Waters, ambos activos em boicotes do género, a banda Wolf Alice, o cómico Alexei Sayle, os realizadores Mike Leigh e Ken Loach e a actriz Julie Christie. Mas a assinar a carta existem até nomes israelitas, como os músicos Aviad Albert, Michael Sapir e Ojal Grietzer.
A carta, publicada esta sexta-feira no jornal britânico The Guardian, começa assim: “Nós, os artistas signatários da Europa e mais além, apoiamos o sincero apelo dos artistas palestinianos para boicotar o Festival Eurovisão da Canção 2019, organizado por Israel. Até os palestinianos poderem usufruir de liberdade, justiça e direitos iguais, não deverá haver negócios a continuarem como se nada fosse com o Estado que está a negar-lhes os direitos básicos.”
O apelo recorda também que, a 14 de Maio, apenas dois dias após a vitória de Netta Barzilai na Eurovisão, “o exército israelita matou 62 protestantes palestinianos desarmados em Gaza, incluindo seis crianças, e feriu centenas de outros, a maioria com balas reais”, realçando que a política de “atirar a matar ou ferir” de Israel já foi condenada pela Amnistia Internacional e pela Human Rights Watch.
O boicote deverá acontecer, prosseguem, se Israel organizar o festival “enquanto continuar as suas graves violações dos direitos humanos palestinianos que duram há várias décadas”. “Compreendemos que a European Broadcasting Union está a exigir que Israel encontre uma zona ‘não-divisiva’ para a Eurovisão de 2019. Devia cancelar a organização do concurso por parte de Israel, e mudá-la para outro país com um melhor historial de direitos humanos. A injustiça divide, enquanto a busca por dignidade e direitos humanos une”, concluem os signatários.