“O mainstream não sabe nada” das alterações climáticas
Maria Assunção Araújo é a geógrafa e professora catedrática na Universidade do Porto que impulsionou a conferência sobre alterações climáticas, marcada para esta sexta-feira e sábado, que suscitou polémica e contestação do meio científico.
Por detrás da organização da conferência sobre alterações climáticas da Universidade do Porto, a realizar-se nesta sexta-feira e sábado, que saltou para as páginas dos jornais porque a maioria dos seus oradores contrariam o consenso científico no que respeita ao papel das emissões do CO2 está a professora portuguesa Maria Assunção Araújo.
A geógrafa de formação é professora catedrática na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e lecciona, entre outras unidades curriculares, Geografia da Europa e Quaternário e Mudanças Globais. Organizou esta conferência porque achou que a Universidade do Porto teria “abertura de espírito suficiente para a acolher”, conforme contou ao PÚBLICO. Mas a posição oficial da Universidade, revelada nesta terça-feira, onde se demarca da organização do debate, não a chocou: “Não há problema nenhum desde que não nos mandem para o jardim porque não nos querem na Universidade”.
O objectivo desta conferência, na opinião da organizadora, é debater sobre a ideia de que "todas as alterações climáticas que temos vistos nos últimos tempos" foram causadas pela "quantidade de CO2 que existe ou não na atmosfera". "É estúpido porque num sistema tão complexo como o da Terra há muitas outras causas", defende, enquanto organizadora do encontro.
"Se forem contra o mainstream melhor ainda, porque o mainstream não sabe nada sobre o assunto"
Sublinha — mais do que uma vez —, que os conferencistas convidados não negam as alterações climáticas: "Está no nome: “Basic Science of a Changing Climate”. Nós não negamos as alterações climáticas. Lutamos é contra a falta de seriedade científica. Achamos que não há uma explicação simples nem linear para as variações", defende.
Ao PÚBLICO, conta que se envolveu na organização desta conferência porque conhece Nils-Axel Mörner, professor emérito da Universidade de Estocolmo, "há cerca de 30 anos" e tem "por ele uma grande admiração científica". "Ele tem mais de 600 artigos publicados — e ninguém consegue publicar mais de 600 artigos se for um idiota, ou uma pessoa que não faz investigação. Ele não anda a dizer mentiras", sublinha, respondendo e contrariando o que tem sido escrito na imprensa.
"Em 2016 [Nils-Axel Mörner] foi impedido de falar numa conferência em Londres e foi para outro espaço, que eu ajudei a pagar. Perante isto, eu, que sou professora catedrática numa universidade que acho que tem a abertura de espírito suficiente que se possa discutir, pensei acolher esta conferência", explica. "Chamei gente do melhor que há do ponto de vista científico. Se forem contra o mainstream melhor ainda, porque o mainstream não sabe nada do assunto. Os políticos não sabem nada disto."
Quanto ao seu papel na organização desta conferência, Assunção Araújo afirma tratou das salas, do pedido de subsídio junto da Universidade e do site, que, sublinha, está online desde Janeiro e tem sido bastante divulgado junto da comunidade académica da Faculdade de Letras. "O professor Mörner que avaliou as submissões do ponto de vista científico" e um terceiro elemento, a professora Pamela Matlack Klein, esteve a cargo dos contactos com os convidados e da correcção linguística (em inglês) dos textos apresentados.
Para a realização desta conferência, a Universidade do Porto aprovou um subsídio no valor de 1000 euros, concedido pelo banco Santander — que, entretanto, conforme fez saber a geógrafa, se quis distanciar do encontro, pedindo que o logótipo não fosse usado nos materiais do encontro. O subsídio foi no valor de "1000 euros, dos quais só nos deram 800 euros porque 200 ficam logo na faculdade", conta a professora. Foi a própria Assunção Araújo quem fez o pedido de subsídio à reitoria da Universidade porque viu que "tinha convidados com muita qualidade".
"Nós temos o direito de organizar as conferências que quisermos. Podemos organizar esta conferência e pedir para isso um espaço, que foi o que fiz junto da Faculdade de Letras. Foi conferido automaticamente, uma vez que estava livre. Não houve censura em relação a isso".
"Não nos importava nada — e até gostávamos — que aparecesse um alarmista climático"
Esta conferência contará com 33 oradores, 25 deles escolhidos directamente por Nils-Axel Mörner. Os restantes tiveram de enviar um trabalho científico para poder participar: "As pessoas podiam mandar um resumo e nós logo víamos se aceitávamos ou não".
Até agora, a professora tem 70 inscritos (numa conferência que tem um custo de participação de 130 euros desde 15 de Agosto), mas está convencida de "que a sala estará cheia". "Tenho vários alunos do mestrado de Geografia que se inscreveram".
E quanto ao espaço para quem defende o consenso científico? "Não nos importava nada — e até gostávamos — que aparecesse um alarmista climático. E se calhar até vai haver na assistência. Não temos nada a esconder. Queremos é divulgar as nossas ideias e que sejam discutidas porque achamos que têm sido silenciadas", acredita a geógrafa. "E a prova é que logo que se começou a falar sobre a conferência, a Universidade do Porto demarcou-se."
O debate, explica, ficará garantido nos "quatro ou cinco minutos" no final de cada conferência e nas sessões de perguntas no final de cada dia — sessões essas que estão descritas no site da conferência como um espaço para "perguntas de estudantes". "São perguntas eventualmente ingénuas, mas de gente que se quer informar. Mas não é obrigatório que sejam de estudantes", explica a geógrafa.
A Universidade do Porto apoiou uma "iniciativa que não conhecia"
A Universidade do Porto, no entender desta professora, pode estar a sentir-se um "pouco enganada" porque apoiou uma iniciativa que obviamente não conhecia" e "[apoiou] porque me conheciam e sabem que eu sou uma pessoa séria e rigorosa".
"Uma coisa é confiarem em mim. Outra é acharem que isto é politicamente aceitável", sublinha.
Assunção Araújo acredita que a directora da Faculdade de Letras "não está zangada com esta conferência". Revela que falou com a responsável pela Faculdade na terça-feira, depois de o assunto ter sido noticiado por vários meios de comunicação, e que a directora, Fernanda Ribeiro, "estava de acordo que a censura no poder não é uma coisa correcta e que a Universidade deve ser um espaço de debate".
E é nesse espírito que se apresenta, nas suas aulas, como uma "céptica em relação ao papel do dióxido de carbono nas alterações climáticas". Apresenta as suas ideias nas aulas e sente-se feliz quando põe os seus alunos a pensar sobre o tema: " Alguns estão de acordo; outros demoram mais tempo a perceber".
"A mim pagam-me para divulgar as minhas ideias, para ser uma pessoa influente do ponto de vista científico e para fazer parte da construção de uma mentalidade um bocadinho mais científica."