Quem são e o que defendem os negacionistas da conferência na Universidade do Porto?
Falam num "lóbi das alterações climáticas", dizem que o aquecimento global pode ser um fenómeno positivo e, em dois casos, têm ligações a um instituto norte-americano que chegou a colocar em causa a existência de uma relação entre o tabaco e o cancro do pulmão. Contra eles têm a quase totalidade da comunidade científica mundial.
A Universidade do Porto recebe no próximo fim-de-semana uma conferência internacional organizada por um comité que promove visões cépticas ou negacionistas em relação às alterações climáticas e à influência da actividade humana no fenómeno.
O PÚBLICO reuniu algumas das ideias-chave dos convidados, que colidem frontalmente com o amplo consenso científico existente sobre a matéria — 97% da comunidade científica valida a tese de que a actividade humana contribui para as alterações climáticas na Terra.
Piers Corbyn: “CO2 nunca provocou, não provoca nem provocará nenhuma alteração meteorológica ou climática”
“É um facto que não existem alterações climáticas provocadas pelo homem” é uma das frases que Corbyn, um meteorologista britânico, mais repete em entrevistas. Defende que as alterações climáticas sentidas se devem antes ao aumento da actividade solar. “CO2 nunca provocou, não provoca nem provocará nenhuma alteração meteorológica ou climática”, afirmou ao jornal britânico Guardian em 2016.
O irmão do líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn acusa a comunidade científica de participar num complô contra os países industrializados do Ocidente, tese defendida pelo Presidente norte-americano Donald Trump: “Independentemente do que pensam disto tudo, o resultado dessas crenças é a desindustrialização do Ocidente e uma mudança da produção do dióxido de carbono do Reino Unido para a Índia e China”.
Corbyn defende que "tudo que acontece agora já aconteceu antes", apontando para mapas meteorológicos alemães com mais de 200 anos.
É presença recorrente em conferências de movimentos negacionistas. Em 2009 foi orador num evento organizado pelo Heartland Institute, um think- tank conservador norte-americano que nos anos 1990 trabalhou com a tabaqueira Philips Morris, negando a existência de uma relação entre o fumo do tabaco e o cancro do pulmão, e que na década passada começou a organizar conferências a atacar o actual consenso científico existente relativo às alterações climáticas.
Nils-Axel Mörner: “Não tem a ver com o degelo dos glaciares: os níveis do mar são afectados por muitos factores, como a velocidade a que a Terra gira”.
O investigador sueco Nils-Axel Mörner é apresentado pela organização da conferência no Porto como alguém "que desenvolve, já desde os anos 70, [estudos] sobre as alterações do nível do mar".
Mörner fala na existência de um "lóbi das alterações climáticas" e argumenta que “os níveis do mar têm estado a oscilar, tal como no presente, ao longo dos últimos três séculos”. “Não tem a ver com o degelo dos glaciares: os níveis do mar são afectados por muitos factores, como a velocidade a que a Terra gira", argumentou em 2011 num artigo para a revista The Spectator.
O sueco afirma que as imagens de satélite e os números indicados pelos cientistas são falsos: “Em 2003, o registo de altimetria de satélite foi misteriosamente alterado de forma a sugerir um aumento abrupto do nível do mal de 2,3 milímetros por ano… Isto é um escândalo que devia ser chamado Sealevelgate”. Não existe, no entanto, qualquer prova de semelhante conspiração.
Michael Limburg “É muito provável que as futuras gerações beneficiem do enriquecimento da atmosfera da terra com mais dióxido de carbono”
Limburg é engenheiro eléctrico de formação reformado que, em 2001, começou a analisar "questões relacionadas com a climatologia, com especial atenção nos métodos, procedimentos e instrumentos usados para conseguir dados meteorológicos".
“Não há nenhum problema no clima", afirma. "Mesmo se o aquecimento global fosse causado por humanos — o que duvido — não é de todo mau. Um clima mais quente é melhor para a Humanidade do que um clima frio. Sabemos disso pela nossa própria história: em períodos quentes houve abundância, e nas fases frias as pessoas passavam fome”, defende, citado pelo DeSmog, um site dedicado ao fact-checking do debate sobre as alterações climáticas.
Christopher Monckton: “As fábricas termoeléctricas a carvão modernas (…) emitem poucas partículas e oferecem a electricidade mais limpa, barata, eficiente e confiável do mundo”
Conselheiro do Heartland Institute (o instituto já referido neste artigo), defende a política de Donald Trump de apoio à indústria do carvão e considera que a estratégia de Barack Obama para o ambiente tinha como "verdadeiro propósito (...) destruir as empresas de carvão".
"Não há bases científicas que apoiem a guerra de Obama contra o carvão. As fábricas termoeléctricas a carvão modernas, que queimam carvão em pellets ou pulverizado a temperaturas muito elevadas emitem poucas partículas e oferecem a electricidade mais limpa, barata, eficiente e confiável do mundo”, defende, alegando ainda que “é demonstrável que o aquecimento global não foi, não é e nunca será um problema”.
Na verdade, a utilização de carvão na produção de energia é uma das maiores fontes mundiais de emissões de dióxido de carbono.
Antón Uriarte: “A história do clima mostra que quando houve mais CO2 na atmosfera houve mais vida na Terra”
Uriarte é apresentado no site da conferência como um “geógrafo espanhol, nascido e residente de San Sebastián, especializado em climatologia, com doutoramento em Geografia pela Universidade de Saragoça”. Actualmente é professor na Universidade do País Basco e defende que o CO2 na atmosfera não é assim tão mau: “Não é um contaminante. Não é um gás tóxico nem venenoso”.
“A história do clima mostra que quando houve mais CO2 na atmosfera houve mais vida na Terra. O aumento atmosférico registado no século XX pode ser benéfico para o desenvolvimento da vegetação terrestre. De facto, o aumento de CO2 pode influenciar positivamente a actividade das plantas”, escreveu numa publicação do seu site, em 2007.