Tintoretto faz anos e Veneza volta a celebrá-lo
Duas exposições em Veneza, uma nos Estados Unidos e um projecto de investigação. Tudo para festejar os 500 anos do nascimento do pintor. Há 80 que a cidade onde nasceu e viveu não lhe dedicava uma exposição.
A dimensão da tarefa não admitiria projecto menos ambicioso. Celebrar os 500 anos do nascimento de Tintoretto, um dos grandes pintores de Veneza, exigiu um projecto de investigação que nos últimos três anos reuniu alguns dos maiores especialistas internacionais na sua obra e que vai resultar em três exposições e várias publicações.
No dia 7 de Setembro, no Palácio Ducal na cidade onde nasceu, é inaugurada a retrospectiva Tintoretto: 1519-1594, exposição que até 6 de Janeiro do próximo ano reúne 70 pinturas e uma rara colecção de desenhos escolhidos para melhor detalhar a evolução do trabalho deste mestre do Renascimento italiano a quem é muitas vezes associado o adjectivo “arrojado” devido ao uso que faz da perspectiva e à carga dramática das figuras que representa nas suas pinturas, na sua maioria narrativas e de grande escala.
Pelas salas do paço, um dos principais monumentos de Veneza, estão distribuídas obras oriundas de algumas das melhores colecções de pintura do mundo, com destaque para Susana e os Velhos (Kunsthistorisches, Viena), que muitos consideram a mais erótica das obras de Tintoretto, Retrato de Giovanni Mocenigo (Staatliche, Berlim) e os cinco empréstimos do Museu do Prado, entre eles José e a Mulher de Potifar, Judite e Holofernes e O Rapto de Helena.
A esta exposição monográfica centrada nos anos de maturidade deste pintor fortemente influenciado por Ticiano que trabalhou em diversas encomendas para o Palácio do Doge junta-se outra, na Galeria da Academia, que terá por foco a sua juventude — a sua formação e os dez primeiros anos (as suas primeiras obras são de c. de 1540) —, em que teve um sucesso bastante assinalável.
Um dos grandes nomes da pintura europeia do século XVI, Jacopo Robusti, conhecido como Tintoretto, nome que recebeu devido ao facto de o seu pai ser tintureiro (tintore, em italiano), viveu e trabalhou quase toda a sua vida em Veneza (a única viagem que se lhe conhece é feita a Mântua). Dizem muitos dos que o estudam que na sua arte é visível a intenção de juntar ao uso da cor de Ticiano as formas dinâmicas, vivas, de Miguel Ângelo.
O projecto de investigação foi lançado em 2015 pela fundação que reúne os museus de Veneza que estão sob administração da cidade e a National Gallery de Washington, segundo destino da mostra (Tintoretto: Artist of Renaissance Venice, 10 de Março a 7 de Julho de 2019). Os dois comissários da exposição do paço ducal, Robert Echols e Frederick Ilchman, os mesmos que foram responsáveis pela que o Prado dedicou ao pintor, ainda hoje uma referência para quem estuda Tintoretto, estão entre os especialistas que fazem parte do projecto.
Diz a National Gallery de Washington na apresentação que faz da exposição, a primeira nos Estados Unidos dedicada a este artista, que o trabalho desta dupla de comissários tem, nos últimos anos, ajudado a distinguir o que é seu do que é dos seus discípulos, lançando uma nova luz sobre a produção de Tintoretto, que forma com Ticiano e Veronese o grupo dos “três grandes” da pintura veneziana do século XVI.