Uma pequena casa rural com vista para a modernidade

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Estavam a trabalhar na Alemanha há uns dois anos quando, "apesar da crise", uma oportunidade em terras lusas deu sinais. Carolina Leite e Ricardo Mendes aceitavam o desafio de dar uma segunda vida a uma "pequena casa rural" em São Roque, Oliveira de Azeméis, e com esse projecto davam início ao atelier Krafna. Apesar da logística "caótica", foram concebendo e orientando o projecto de recuperação da casa à distância. Mas a dada altura, com outros contactos a surgirem, Carolina, 29 anos, e Ricardo, 30, decidiram regressar a Portugal.

Estávamos em 2017 e a Casa Chã ganhava forma. O maior desafio, conta Carolina Leite ao P3, foi o de definir um "programa": o cliente tinha comprado uns terrenos para uma vinha onde havia aquela casa de apoio à lavoura, um exemplar entre os muitos que "povoavam toda a zona e que agora praticamente desapareceram num mar de casas de imigrantes". Não precisava dela, mas não queria deixá-la em ruínas. Depois de várias conversas, decidiram fazer ali um pequeno pavilhão que servisse sobretudo para utilizações de fim-de-semana. Um espaço que preservasse a sua natureza rural, mas estreasse um lado mais moderno. Com espaços amplos e uma clara "diferença entre interior [mais moderno] e exterior [mais rústico]". Lá dentro, onde a destruição era quase total, os arquitectos formados na escola do Porto desenharam "um espaço amplo e sofisticado, onde a cozinha é o epicentro", lugar onde sobressaem "pequenos recantos e esconderijos para os utilizadores mais atentos e curiosos" — como uns caixilhos multicolores ou a alternância entre pavimento em tijolo burro e o micro-cubo.

Carolina e Ricardo tinham-se debruçado sobre o tema da reabilitação nas suas teses de mestrado. "Temos muito património pobremente construído", aponta Carolina, e há estudos que mostram que "há mais casas do que pessoas" em Portugal. O problema, diz, é que estes edifícios estão algumas vezes no "sítio errado" ou "mal construídos". O atelier Krafna — que depois de nove meses instalado numa zona central do Porto foi despejado e está agora em busca de outra sede — quer apostar precisamente na área da reabilitação. E não apenas nas grandes cidades como Porto e Lisboa, mas também no interior do país: "Existe património arquitectónico com origens mais modestas que interessa conservar."

©Fábio Veríssimos
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