Como ajudar os animais do incêndio em Monchique

Sem chamas em actividade, o incêndio em Monchique deu tréguas ao sétimo dia. Mas há centenas de animais perdidos e a precisar de abrigo, alimentação e cuidados veterinários.

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Pedro Nunes/Reuters

Ao sétimo dia, o incêndio em Monchique começou a ceder aos meios de combate. A “resposta de apoio a animais está controlada” disse, na quarta-feira, 8 de Agosto, a Ordem dos Médicos Veterinários, mas no local há relatos de falta de “alimento”, principalmente para o gado.

A população, na sua maioria obrigada a abandonar as suas casas e os animais, começa agora a regressar às habitações com a expectativa de que "a casa de uma vida continue de pé, bem como as vacas e os porcos" que foram deixados para trás. "Saí de casa na segunda-feira. Saí não, fui obrigado pela Guarda [GNR] a abandonar a minha casa e a deixar os meus animais. Tinha possibilidade de os levar daqui, mas a Guarda não deixou que os carregasse na carrinha, quando o fogo ainda estava muito longe. Felizmente que nada lhes aconteceu, nem a eles nem à casa", diz à Lusa Joaquim Silva, que tem duas vacas e cinco porcos.

À semelhança de outros moradores com que a Lusa falou, o habitante de Monchique, de 72 anos, critica a forma como foram obrigados a sair das casas, sem que lhes fosse permitido colocar os animais e viaturas em segurança. "Está tudo queimado, não há pastos. E o que é que agora vou dar de comer aos animais se não tenho dinheiro para comprar ração?”

Tanto o edifício DRAPAL, no Patacão, em Faro, como os serviços médico-veterinários de Portimão, na Estrada do Poço Seco, estão disponíveis para entregas de material e preparados “para apoiar qualquer necessidade médico-veterinária”.

Foi montado um hospital de campanha, numa escola secundária local, e no terreno os voluntários de várias associações fazem a recolha e aplicam os cuidados médicos gratuitamente a todos os animais, sejam eles de companhia, de produção ou selvagens. A maior parte dos animais tem queimadoras e intoxicações causadas pelo fumo.

Ana Silva, veterinária municipal, diz que a tarefa nem sempre é fácil: "Primeiro colocamos água para ganhar a sua confiança e podermos tratá-los, e acompanhar até serem devolvidos aos donos". "Embora existam casos fatais, há muitas alegrias como estas", sublinhou Ana Silva enquanto acariciava o animal ao seu colo, acrescentando que o mesmo "precisa de carinho, de ânimo e de força para poder continuar".

Segundo a veterinária municipal, o resgate dos animais é sempre acrescido de muitos desafios, como o afastamento de troncos de árvores e pedras de estradas e caminhos, mas "as dificuldades não são impedimento da boa vontade dos muitos voluntários que colaboram no resgate e assistência animal".

No terreno, a percorrerem as áreas ardidas de todos os concelhos para prestarem assistência aos animais, andam os voluntários da Associação Nacional dos Alistados das Formações Sanitárias (ANAFES).

Segundo Nuno Paixão, o coordenador da ANAFES, os animais feridos nos concelhos afectados pelo incêndio de Monchique "são, felizmente, em menor número do que na última experiência em Oliveira do Hospital, devido ao tipo de fogo e de relevo do terreno".

"Estamos espalhados por várias aldeias da serra e à medida que vamos avançando é que encontramos casos, número esse que vai aumentando, sendo neste momento difícil de falar numa quantificação". Segundo o clínico, a associação ANAFES presta "assistência imediata aos animais, como água, alimento e tratamento, e tenta manter o acompanhamento, que pode durar semanas ou meses".

A ANAFES é composta "apenas por voluntários com formação de pronto-socorro mesmo destinado a humanos, atuando com consonância com a Proteção Civil, dispondo de material de apoio e assistência ao tratamento animal, na grande maioria doado pela sociedade civil.

Ao longo da semana, vários consultórios disseram estar disponíveis para tratar e receber animais feridos. É o caso do Vetaquashow, na Quarteira. A “fim de evitar a perda de mais vidas”, uma escola de treino de cães algarvia, a Iron Dog, disponibiliza-se também para acolher, de forma temporária, “qualquer animal perdido ou resgatado”. “Não deixem de resgatar animais por não terem onde os colocar”, apela, numa publicação no Facebook. Ao seu cuidado, na Quarteira, tem já 20 porquinhos-da-índia, ovelhas e um burro. Precisam de jaulas, ração e palha.

São também precisos analgésicos e anestésicos, agulhas e seringas, compressas, alimentos, baldes e alguidares, entre outros, disse fonte da Ordem dos Médicos Veterinários, à Lusa. Quem quiser contribuir pode pedir informações através do email criado para o propósito: monchique@dgav.pt. O organismo apela ainda a uma colaboração eficiente e articulada com as autoridades competentes.

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Pedro Nunes/Reuters

O Hospital Veterinário do Algarve tem uma equipa de sete médicos veterinários que se têm deslocado ao terreno e dizem precisar de colírios e soros, que podem ser entregues nos bombeiros.

 

Ao local chegaram também dezenas de voluntários, que têm percorrido diariamente vários quilómetros pela serra, para assistirem os animais feridos pelo fogo. Há acções organizadas por cidadãos em grupos de Facebook como o Algarve Fires Animal Group e o Animal Rescue Monchique, onde são partilhadas imagens de animais encontrados e pedidos e ofertas de ajuda.

Por precaução, na quarta-feira, os 29 linces do Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico (CNRLI), em Silves, no distrito de Faro, foram retirados e deslocados para instalações em Espanha. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) já estava a estudar a evacuação preventiva desde domingo.

Segundo o balanço feito esta quinta-feira de manhã, há 36 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 299 pessoas estão deslocadas e distribuídas por centros de apoio, depois da evacuação de várias localidades.  Outras nove pessoas acamadas estão dispersas por unidades de saúde.

O incêndio rural, que está a ser combatido por mais de mil operacionais, deflagrou na sexta-feira à tarde em Monchique, no distrito de Faro, e lavra também no concelho vizinho de Silves, depois de ter afectado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

De acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, as chamas já consumiram 23.478 hectares. Em 2003, um grande incêndio destruiu cerca de 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

 

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