Castle Rock, a cidade que Stephen King imaginou
A nova série de terror que chega neste sábado ao TV Séries pega na mitologia e no universo em que muitas das histórias do famoso escritor norte-americano se desenrolam.
Castle Rock, no estado do Maine, é uma cidade onde coisas normais não acontecem com muita frequência. É um sítio cheio de história. Em cada canto já aconteceu algo de sinistro e mau. Há cadáveres, literais ou no sentido figurado, enterrados por todo o lado. Castle Rock não existe na vida real, mas é comum a muitas das histórias assinadas por Stephen King, o prolífico e popular escritor (de terror e não só) norte-americano. A cidade, cujo nome é uma referência à obra O Senhor das Moscas, de William Golding, não é a única que King inventou, mas talvez seja a mais famosa. Já apareceu em vários filmes e séries, sejam ou não adaptações do autor – muitas vezes até nos créditos, já que Rob Reiner, que adaptou King em Conta comigo e O Capítulo Final, deu o nome desta terra à sua produtora.
Castle Rock ganha agora a sua própria série. Esta pega em tudo o que King escreveu sobre a cidade e imagina como é que ela seria nos dias que correm. A série, um original do Hulu (um serviço de streaming que não está disponível em Portugal), foi criada por Sam Shaw e Dustin Thomason, com produção executiva de J.J. Abrams (que já tinha abordado King na minissérie 11.22.63, também do Hulu) e do próprio King. Chega cá via TV Séries, com a estreia marcada para este sábado, 4 de Agosto, às 22h.
A inspiração para a série é o universo em que muitos dos contos e romances de Stephen King se desenrolam. Sam Shaw e Dustin Thomason fazem um pouco o que fez Noah Hawley, que pegou em Fargo, dos Irmãos Coen, e imaginou histórias novas para uma série ao estilo desse filme. Assim, esta Castle Rock reflecte algumas das preocupações de King, como a luta entre o Bem e o Mal, passados obscuros das personagens, a crueldade de que os seres humanos são capazes e o sobrenatural. Só que, ao contrário do que aconteceu com os Coen, nesta série o autor original esteve mesmo envolvido, a rever guiões e a dar ideias, mesmo que não tenha estado sempre em cima dos criadores.
É uma série antológica, em que cada temporada deverá contar uma história distinta, com personagens e actores diferentes. Na primeira, o actor André Holland, de Moonlight, faz o papel de Henry Matthew Deaver, um advogado que lida com casos de pena de morte. Deaver vive no Texas, mas volta à sua Castle Rock natal quando descobrem um prisioneiro numa jaula numa ala da prisão de Shawshank que esteve fechada durante décadas após um incêndio. O prisioneiro mal fala, só diz o nome de Deaver, que, graças a isso, volta a ser uma das poucas pessoas negras na população quase exclusivamente branca da cidade de que tinha escapado em jovem.
O prisioneiro é interpretado pelo sueco Bill Skarsgård, que não é propriamente um estreante em adaptações de King. No ano passado, ele foi Pennywise, o palhaço assustador na muito bem-sucedida adaptação de It ao cinema, realizada por Andy Muschetti. É possível, já que a série vive de mistério, desorientação e ligações, que o facto de ser o mesmo actor a interpretar essas duas personagens não seja coincidência. O sueco não é o único repetente no que toca a King, nem o mais óbvio. Sissy Spacek, que protagonizou Carrie, de Brian De Palma, baseado no primeiro romance de King, volta assim ao universo do autor pela primeira vez em mais de 40 anos para fazer o papel de Ruth, a mãe adoptiva de Deaver que sofre de demência e que, ao início, nem sequer reconhece o filho.
Há personagens que vêm do universo de King, como Alan Pangford, um agora reformado xerife que já foi antes interpretado por Ed Harris e Michael Rooker e é agora trazido à vida por Scott Glen, mas a maioria da população desta Castle Rock é nova. Algumas pessoas têm apelidos iguais aos de figuras icónicas da bibliografia do autor. Castle Rock está, aliás, cheia desse tipo de detalhes, que decerto farão as delícias dos fãs do escritor. Não é, contudo, obrigatório ter lido o que quer que seja para se apreciar a série, mesmo que esta inspire e recompense obsessões. O próprio Stephen King recomendou no Twitter, no início de Agosto, que as pessoas deixassem de procurar mensagens e piscares de olhos escondidos em Castle Rock e desfrutassem da série por si só.
Apesar disso, o Hulu lançou um documentário de 23 minutos, disponível no YouTube, em que se mostram os sítios do Maine, as pessoas e as situações reais que inspiraram o escritor a criar Castle Rock. O vídeo inclui conversas com especialistas na obra de King, e ainda Sissy Spacek, J.J. Abrams, Sam Shaw e Dustin Thomason. E não é o único conteúdo extra disponibilizado no YouTube: há também vários vídeos curtos com acontecimentos sinistros fictícios que ocorreram ao longo de décadas nesta Castle Rock imaginada. A cidade parece ser, tal como King, um filão inesgotável.