OMS alerta para uma nova epidemia de cólera no Iémen e pede cessar-fogo para vacinação
Organização Mundial da Saúde avisa que a taxa de mortalidade devido à cólera está a aumentar devido à desnutrição generalizada.
O Iémen pode estar à beira de mais uma epidemia de cólera, com uma taxa de mortalidade elevada devido à desnutrição generalizada, e a ONU espera por um cessar-fogo no Norte para permitir a vacinação, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira.
“Tivemos duas grandes ondas de epidemias de cólera nos últimos anos e infelizmente os dados da tendência que vimos nos últimos dias e semanas sugerem que podemos estar à beira da terceira grande onda de epidemias de cólera no Iémen”, afirmou Peter Salama, responsável pelos serviços de emergência, aos jornalistas em Genebra.
“Pedimos a todas as partes no conflito que ajam de acordo com o direito internacional humanitário e que respeitem o pedido da ONU e da comunidade internacional de três dias inteiros de tranquilidade e que deponham as armas para que nos permitem vacinar a população civil”, acrescentou.
O Norte do Iémen nunca teve uma campanha oral de vacinação contra a cólera, mas 3000 profissionais de saúde planeiam vacinar mais de 50 mil pessoas nos próximos três dias na cidade de Hodeidah, o principal porto do país na Península Árabe e um local-chave para os planos da ONU para uma solução política para a guerra.
Na quinta-feira, ataques aéreos liderados pela Arábia Saudita atingiram um porto pesqueiro e um mercado de peixe em Hodeidah, que é mantido pelas forças houthis alinhadas com o Irão, e 26 pessoas foram mortas, revelaram fontes médicas iemenitas.
O hospital Al Thawra, o maior do Iémen, foi também atingido no ataque.
Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU no Iémen, disse em comunicado que centenas de milhares de pessoas dependem deste hospital para sobreviver.
“Todos os dias desta semana vimos novos casos de cólera de Hodeidah, e agora isto. O impacto dos ataques é terrível. Tudo o que estamos a tentar fazer para conter a pior epidemia de cólera do mundo está em risco”.
Salama afirmou que o edifício principal do hospital continua intacto mas muitos departamentos subsidiários, especialmente do departamento estatístico, foram atingidos, afectando trabalhadores que preparavam a campanha contra a cólera.
A incidência da cólera este ano não foi tão massiça quanto o ano passado, altura em que o número de casos subiu para cerca de 1,1 milhões, mas o recente aumento aponta para o início de um novo surto, explicou ainda Salama.
Os surtos anteriores podem ter ajudado a aumentar a imunidade contra a cólera na população, mas outras doenças, bem como a desnutrição, enfraqueceram o sistema imunológico dos iemenitas.
“O que provavelmente veremos é a relação entre a cólera e desnutrição a ocorrer cada vez mais. E não apenas mais casos por causa disso mas taxas de mortalidade ainda maiores entre os casos de cólera que ocorrem, porque as pessoas simplesmente não têm os recursos físicos para combater a doença por mais tempo”, afirmou Salama.