“A Academia da História não se move por opções políticas”
Quando era presidente da Câmara de Lisboa, Santana Lopes cedeu à Academia Portuguesa da História as instalações que a instituição ainda hoje ocupa. Foi essa a justificação para ter sido agora eleito membro honorário.
“A Academia Portuguesa da História não se move por opções políticas: tanto admitimos gente de direita como de esquerda”, defendeu esta quarta-feira ao PÚBLICO a presidente da instituição, Manuela Mendonça, a propósito da eleição de Pedro Santana Lopes como académico honorário.
O antigo primeiro-ministro, que anunciou recentemente a intenção de sair do PSD e criar uma nova organização política, foi eleito académico honorário da Academia Portuguesa da História (APH) numa sessão que decorreu esta segunda-feira, tendo o seu nome sido unanimemente aprovado, conforme noticiou o PÚBLICO. Ontem, no entanto, apesar de várias tentativas, não foi possível ouvir a presidente da APH, a quem se deve a iniciativa de ter proposto Santana Lopes como sócio honorário da academia, conforme Manuela Mendonça esclareceu agora.
Uma decisão que mereceu reservas a um dos seus colegas de Academia, o historiador Vítor Serrão, que não participou na eleição do ex-provedor da Misericórdia de Lisboa por estar de férias, mas que afirmou ao PÚBLICO a sua convicção de que "a Academia só deve premiar e valorizar pessoas com currículo significativo no campo da História, com obra publicada ou produzida noutras dimensões, o que não se aplica de nenhum modo a Santana Lopes".
Os cerca de 450 académicos distribuem-se por quatro categorias – mérito, honorário, correspondente e número –, mas só estes últimos podem eleger novos membros. Na eleição de Santana Lopes, votaram 20 dos 36 académicos de número (os únicos que têm direito a uma cadeira numerada), uma vez que alguns se encontram de férias.
“Segundo os nosso estatutos, o título de académico honorário pode ser conferido a personalidades nacionais ou estrangeiras de reconhecido prestígio que hajam prestado relevantes serviços à academia e à cultura. No caso concreto de Santana Lopes, a Academia tem uma dívida de gratidão para com o antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, porque as actuais instalações foram cedidas por ele”, explica Manuela Mendonça, uma historiadora especializada no período medieval. A APH está instalada no Palácio dos Lilases, na Alameda das Linhas de Torres, em Lisboa, imóvel que pertence à Câmara de Lisboa desde a década de 70 do século XX.
Além de secretário de Estado da Cultura no segundo Governo de Cavaco Silva, Santana Lopes foi também presidente das câmaras de Lisboa e da Figueira da Foz e provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, entre 2011 e 2017, altura em que patrocinou, entre outras iniciativas de relevo cultural, a publicação da Obra Completa do Padre António Vieira. Esta última iniciativa estava a ser apresentada como um dos motivos para a sua eleição como académico, embora o próprio político tivesse expressado dúvidas sobre a distinção ter como justificação a sua acção como provedor.
A historiadora Manuela Mendonça, que foi subdirectora-geral dos Arquivos Nacionais da Torre do Tombo (1990-1996) quando Santana Lopes era secretário de Estado da Cultura, diz que a eleição “só aconteceu agora porque actualmente este não tem nenhum cargo político”. Por último, explica que a responsabilidade de propor Santana Lopes é sua, numa proposta que foi assumida pelo conselho académico da APH, como é normal acontecer. "Conheci o Dr. Santana Lopes enquanto subdirectora da Torre do Tombo, nessa altura admirei muito a sua capacidade de trabalho. Mas isso não tem nada a ver com a minha proposta, que se deve, como está fundamentado, a ter sido o presidente [da Câmara de Lisboa] que deu novas instalações à academia."