Esquerda rejeita comissões sobre alegadas adopções ilegais de crianças

PSD e CDS tinham proposto a acriação de uma comissão para averiguar alegadas adopções ilegais na sequência de uma petição subscrita por cerca de cinco mil pessoas.

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A deputada do PSD Teresa Morais, que foi a relatora da petição, defenedeu uma intervenção mais activa por parte do Parlamento Miguel Manso

PS, PCP, PEV e BE "chumbaram" nesta quarta-feira as propostas do PSD e do CDS para o Parlamento averiguar eventuais irregularidades na adopção de crianças, na sequência do caso da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

PSD e CDS votaram a favor da proposta social-democrata, de criação de uma comissão eventual para averiguar eventuais irregularidades na adopção de crianças, que teve a abstenção do PAN.

O projecto do CDS, que queria criar uma Comissão Técnica Independente para apurar o que se passou nas adopções, nos anos 1990, e discutir mudanças legais ao actual regime, foi votado pelos democratas-cristãos, tendo PSD e PAN optado pela abstenção.

Apesar de algumas diferenças na argumentação, PS, PCP e BE consideraram que o Parlamento já tem a comissão competente, dos Assuntos Constitucionais, e os poderes para intervir neste caso.

Pelo Bloco de Esquerda, a deputada Sandra Cunha lembrou que já propôs a criação de um grupo de trabalho para analisar os problemas com o actual regime legal da adopção, ouvindo especialistas. E apontou o dedo ao PSD e ao CDS e ao aproveitamento do caso, ao propor estas duas comissões, afirmando que os casos passados estão a ser investigados pelo Ministério Público e criticou que se misturem "procedimentos criminais" com "procedimentos actuais de adopção".

Pelo PS, Catarina Marcelino alinhou na mesma tese, afirmando que não se deve "misturar um caso que pode configurar um crime de há 20 anos atrás com o sistema de adopção do presente".

Para António Filipe, do PCP, a Assembleia da República "tem uma comissão competente nesta matéria", "tem responsabilidade e deve assumi-las". "Não precisa de criar novas instituições para o poder fazer", afirmou.

O caso das alegadas adopções ilegais de crianças portugueses por pessoas ligadas à IURD, com sede no Brasil, começou com uma série de reportagens na estação de televisão TVI, em Dezembro de 2017, intituladas Segredos dos Deuses.

Em Janeiro, realizaram-se vigílias em vários pontos do país, incluindo em frente à Assembleia da República, em Lisboa, em que se exigia a criação de uma comissão de inquérito sobre este caso, tendo-se recolhido milhares de assinaturas para a petição Não Adopto esse Silêncio.

Os autores da petição e algumas testemunhas indicadas por estes foram ouvidos, em Março pela Comissão dos Assuntos Constitucionais, tendo o Parlamento enviado para o Ministério Público algumas das informações que lhe foram entretanto transmitidas por considerar que se tratavam de “factos graves ocorridos recentemente que eventualmente terão relevância criminal”.

A IURD nega responsabilidades e já anunciou que vai recorrer à justiça para "exigir a reparação dos danos causados" com as notícias sobre casos de adopções ilegais, através do que considera ser uma "campanha infamante".

Tratando-se de uma petição, qualquer iniciativa depende dos grupos parlamentares e, neste caso, segundo a lei, um inquérito parlamentar tem que ser proposto por um quinto dos deputados.