Estes vasos são feitos a partir de fungos e resíduos da produção de vinho
Empresa portuguesa utiliza os subprodutos da limpeza das florestas e da produção vitivinícola para criar biocompósitos. O resultado? Materiais biodegradáveis que adoptam a forma de vasos e placas para isolamento térmico e acústico.
Os fungos e os resíduos orgânicos e agroflorestais podem dar origem a biocompósitos com uma infinidade de aplicações. A Spawnfoam começou por produzir vasos ornamentais e florestais e painéis para construção, mas os fundadores garantem ter outras ideias na manga. Embalagens, paletes ou mobiliário poderão ser as próximas apostas biodegradáveis da empresa, finalista da competição europeia Climate Launchpad.
A Spawnfoam, sediada no Regia-Douro Park, em Vila Real, nasceu em Janeiro de 2017 pelas mãos de Pedro Mendes, engenheiro mecânico, e Guilhermina Marques, docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e investigadora do CITAB. A ideia surgiu em 2014 durante uma aula. Pedro Mendes frequentava o mestrado em Engenharia Mecânica na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro quando lhe foi apresentada a Ecovative Design, uma empresa norte-americana que produz compósitos biodegradáveis e de origem orgânica. Não pensou duas vezes, juntou alguns amigos e começaram a pesquisar sobre o tema.
"Trazer o conceito para a Europa" tinha tudo para dar certo, mas Pedro precisava de inovar. Assim nasceu a ideia de aproveitar a matéria-prima existente no Douro, nomeadamente os resíduos da manutenção da vinha e da produção de vinho. Ainda em 2014, o projecto foi seleccionado para integrar o programa Passaporte para o Empreendedorismo, do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI). A participação no programa COHiTEC, dois anos depois, resultou na criação da empresa.
Spawnfoam refere-se ao "inóculo de produção de cogumelos" e ao material esponjoso resultante do processo. "Inicialmente, decidimos produzir os biocompósitos utilizando um fungo dos cogumelos, semelhante àquilo que existia na empresa norte-americana. Entretanto a nossa tecnologia evoluiu de forma totalmente diferente daquilo que eles faziam", explica o co-fundador da startup que, em Junho, foi uma das finalistas da Climate Launchpad, uma competição promovida pela Comissão Europeia que apoia ideias inovadoras com vista à redução do impacto ambiental.
Com vista à sustentabilidade ambiental e eficiência na utilização dos recursos, a startup tem vindo a testar vasos biodegradáveis e placas para isolamento térmico e acústico junto de parceiros e potenciais clientes. Para além destes produtos, a empresa de biotecnologia encontra-se a desenvolver um biomaterial destinado ao acondicionamento de mercadoria. "Há interesse em material de enchimento de embalagens por parte de um dos maiores operadores europeus fabricantes de mobiliário", sublinha Pedro Mendes. O lema é simples: deixar o mundo um pouco melhor do que aquilo que encontraram.
O projecto está agora "a sair do laboratório", conta. "Há interesse do mercado, estamos em contacto com potenciais clientes que estão a testar o produto, mas ainda não estamos a comercializar", nota o engenheiro mecânico. O próximo passo passa pela montagem de uma "pequena unidade-piloto de produção industrial" e, até ao final do ano, a startup espera arrancar com as vendas.
A Eco2Blocks, que cria blocos para a construção civil com recurso a resíduos industriais e dióxido de carbono, foi distinguida com o primeiro lugar. Em segundo lugar ficou a Spawnfoam e, em terceiro, a Cyanocare, startup que desenvolveu um polímero produzido por uma cianobactéria marinha. Em Novembro, os três projectos finalistas vão rumar até à Escócia para representar Portugal na final europeia.