Diversão e imposição são palavras que (não) rimam com trabalho

É imprescindível, acima de tudo, percebermos que não há absolutamente problema nenhum se não nos sentirmos motivados e felizes, tantas vezes quanto seria expectável, no local de trabalho. Ou haverá?

Foto
Annie Spratt/Unsplash

Há tempos li algures: “Work  isn´t  fun, it´s  just  something  you  have to do”. Para mim, e naquele momento, a frase não fez qualquer sentido. É que eu achava, e talvez ainda ache, que ser-se realmente feliz no contexto de trabalho seria possível e, até, expectável. Que a diversão a ele inerente era real e constante. Se o ambiente fosse bom, se as tarefas fossem ao encontro daquilo que gostávamos, se nos fosse dado mérito quando o merecíamos... Se...

O segredo seria (ter a sorte de) encontrar o emprego ideal. Encontrar o lugar para onde, todos os dias, teríamos uma enorme vontade de ir. Não porque tínhamos que o fazer, mas porque, de facto, o queríamos fazer.

Os mais experientes dir-me-iam que não, defendendo que esta é uma ideia utópica. Porquê? Talvez porque hoje em dia o que observamos é que ainda existem muitos trabalhos que nada mais são do que uma imposição da sociedade. E tudo aquilo que nos é imposto tende a provocar em nós um efeito indesejado.

A verdade é que existem trabalhos bons, medianos e maus. Aliás, como em quase tudo na vida. Nos bons, temos a sorte de fazer o que gostamos e de sermos reconhecidos por isso (que, acredito eu, faz toda a diferença). Acordamos e vamos em busca dos melhores resultados que, semanalmente, prometemos a nós mesmos e a quem está acima. Trabalhamos horas a fio com um único objectivo: o de fazer mais e melhor. Já nos medianos, vamos ficando. Levantamo-nos na esperança de que o amanhã seja sempre melhor. Raramente levamos palmadinhas nas costas e contentamo-nos com o dinheiro que cai no fim do mês, pois este será o único reconhecimento que vamos receber. Nos maus, acordamos despidos de vontade para ir, porque não somos bem tratados ou simplesmente porque não gostamos daquilo que lá fazemos. Mas persistimos, na ideia de que “podia ser pior”.

No entanto, na grande maioria das empresas, raramente ouvimos a uma segunda-feira alguém dizer que acordou ansioso por começar a trabalhar. Será igualmente difícil ver muitos dos nossos colegas, diariamente, com um sorriso de orelha a orelha por estar ali a desempenhar as suas funções. E não há problema nenhum nisso, até porque, e olhando muito friamente para a coisa, o trabalho ainda é, para muita gente, algo que tem que ser feito e não uma vontade de quem o faz.

Se calhar, a solução passa por tentar gerir melhor a expectativa que por nós vai sendo criada. Talvez seja importante começar a interiorizar que as empresas não são, de facto, lugares pensados para nos fazer felizes ou para nos oferecer diversão constante. Já dizia Patty McCord, coach executiva de directores executivos: "Vocês sabem que as empresas não existem para fazerem felizes os trabalhadores, não sabem?"

Sabemos, pois. E sabemos também que, no final do dia, o importante é relativizar aquela discussão que tivemos com o chefe, ignorar a seca que o nosso colega nos deu quando não apareceu na reunião marcada e saber valorizar os dias que correram bem.

É imprescindível, acima de tudo, percebermos que não há absolutamente problema nenhum se não nos sentirmos motivados e felizes, tantas vezes quanto seria expectável, no local de trabalho. Ou haverá?

Sugerir correcção
Comentar