Nesta exposição pensam-se os futuros de uma Lisboa que se quer feita por todos
No Torreão Poente da Praça do Comércio é inaugurada esta quinta-feira uma exposição que apresenta aos lisboetas, e não só, os futuros alternativos que se projectam para a capital.
Não se trata do futuro daqui a dez anos, nem daqui a 50, nem daqui a um século. Quando se pensou em criar uma exposição sobre o futuro de Lisboa, há mais de dois anos, rapidamente se percebeu que não se poderia falar apenas de um mas de vários cenários que se poderiam adivinhar para a cidade ao longo do tempo.
Ainda assim, na exposição que mostra possíveis "Futuros de Lisboa", não se apresentam cenários concretos. "Brincamos numa outra sala com algumas possibilidades", diz o geógrafo João Seixas, um dos três comissários desta exposição que inaugura esta quinta-feira. Foi ele que com a directora do Museu de Lisboa, Joana Sousa Monteiro, guiou jornalistas numa viagem por um tempo desconhecido - ainda a acabar de ser montada - e que se estende por dois pisos do Torreão Poente da Praça do Comércio.
Ali, não se propõem “utopias ou distopias”, diz João Seixas. Antes se lançam questões, encontrando-se, nalguns casos, respostas. “O que nós pretendemos é interpelar o visitante, lisboeta ou não, para que cada visitante construa a sua própria visão”. Os próprios cidadãos têm uma sala dedicada às suas contribuições, depois de terem sido convocados a imaginar os futuros da cidade e participado em força. Foram cerca de 160 propostas, entre textos e imagens, mas só 50 poderão ser vistas de perto.
Estando a falar sempre de futuros, há alguns "anacronismos propositados", admite Joana Sousa Monteiro. Começando logo por se pensar o futuro que já foi imaginado ao recordarmos textos do século XVI até ao início do milénio, imaginando uma cidade com edifícios mais espectaculares que dignificassem Lisboa, “um dos centros do mundo” - vista de uma perspectiva eurocêntrica, claro está.
Mas toda a exposição, a última que o Torreão Poente acolhe antes de ir para obras, é muito mais sobre a Lisboa que se falta cumprir. Logo na segunda sala, são as crianças de escolas da cidade que nos dão a conhecer os trabalhos que gostariam de ter no futuro. Para lá dos futebolistas e astronautas – esses desejos ficam no passado – haverá quem queira ser pasteleiro, electricista, artista, pára-quedista e surfista, inventor. Adivinha-se uma geração criadora, com sede de “empreender”, ainda que 65% das crianças que entraram na escola este ano venham a ter profissões que ainda nem sequer existem.
As dez salas vão desembocando umas nas noutras, sempre pontuadas com excertos de ensaios que foram escritos por especialistas de áreas tão diversas como as neurociências, a cidadania e a política, a ecologia, a mobilidade, a psicologia, a saúde ou a habitação, que fizeram uma reflexão sobre o futuro em geral, das cidades e de Lisboa.
Sendo uma exposição sobre o futuro, é também uma exposição sobre o presente. “Não temos adivinhações nem bruxarias. O que procuramos foi uma reflexão múltipla, embora às vezes até contraditória”, reconhece Joana Sousa Monteiro. É por isso que o Museu de Lisboa quer que esses 13 ensaios integrem um catálogo da exposição que será lançado em Setembro, mês em que se farão também conversas sobre os futuros de Lisboa com os pensadores convidados, como Sobrinho Simões ou Viriato Soromenho Marques, e com os comissários: João Seixas, o arquitecto Manuel Graça Dias e a engenheira do ambiente Sofia Guedes Vaz.
Há várias instituições presentes na exposição como a Universidade Lusófona que desafiou os alunos do curso de jornalismo a ir para a rua perguntar aos lisboetas o que Lisboa deveria ser daqui a 100 anos. Ou do Instituto Superior Técnico que tratou de trazer para a exposição o futuro que já por cá anda. Ou de empresas sediadas em Lisboa que andam a desenvolver objectos que daqui a pouco tempo vão ser já objectos dignos de estar num museu.
"Esta exposição é muito sobre a preparação do futuro", nota João Seixas. O futuro que já não é o que era. Já não se pensam em discos voadores ou amigos aliens. A velocidade com que se vê tudo a mudar é também o que nos impede de conseguir imaginar o que está para vir.
Os próprios comissários foram desafiados a fazer esse exercício. De dez fotografias “reais” de diferentes espaços da cidade, o colectivo Odd School tratou de dar forma às utopias dos comissários. De turistas a passear pelo Rossio com água pelos tornozelos – não se conteve a água das ribeiras que confluíam por aquelas que são as grandes avenidas da cidade – ou a rua D. Luís I submersa e a ser atravessada de barco, com um museu dedicado às energias poluentes que já não se quer que existam, são algumas das “especulações” dos responsáveis.
Na última paragem desta viagem erguem-se os pilares da cidade: o Oceano Atlântico, o Estuário do Tejo, a cultura árabe, judaico-cristã. Que se jogam com os direitos da cidade: à habitação, mobilidade, segurança, paisagem. São 24, numa alusão à Casa dos Vinte e Quatro de Lisboa, instituída pelo mestre de Avis em 1383, quando ainda não era rei e que esconde uma "mensagem política relevante: a enorme importância da boa governação da cidade", diz João Seixas.
A exposição estará patente de 13 de Julho a 18 de Novembro, de terça a domingo, das 10h00 às 18h00 (última entrada às 17h30). A entrada para os "Futuros de Lisboa" custa três euros.