Le Tour de Froome
Começa neste sábado a Volta a França em que, para o bem e para o mal, Chris Froome é a figura central de um pelotão que, este ano e pela primeira vez desde 2008, não terá portugueses.
Foi só no início desta semana que Chris Froome respirou de alívio. Após uma investigação que durou meses, a União Ciclista Internacional (UCI) ilibou o britânico do recurso a substâncias dopantes, depois de um controlo positivo a 7 de Setembro de 2017, durante a Volta a Espanha que Froome viria a vencer. A decisão permite ao tetracampeão do Tour lutar pelo seu quinto triunfo na Volta a França (o quarto consecutivo), o que o colocaria ao lado de um grupo de ciclistas de excepção - Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Induráin.
Para o conseguir, Froome terá que chegar ultrapassar 21 etapas – a mais curta com 65km e a mais longa com 231km – num total e 3351km. Até à chegada a Paris, dia 29 de Julho, tem pela frente um contra-relógio por equipas, um contra-relógio individual, 21km no piso empedrado do Paris-Roubaix, seis etapas de alta-montanha e três chegadas no topo, uma das quais no Col de Portet, o ponto mais alto desta edição do Tour, a 2215m.
CHRIS FROOME (Sky), 33 anos
Christopher Froome é, indiscutivelmente, o principal favorito à vitória na Volta à França e que, a concretizar-se, será a quinta. Depois de, no início da semana, ter sido ilibado pela UCI das suspeitas de recurso a substâncias dopantes, o ciclista britânico vai tentar juntar o seu nome a uma lista de notáveis da modalidade - Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Induráin -, os únicos que até hoje venceram o Tour por cinco vezes. Froome parte para a prova francesa vindo daquela que é a sua melhor série de resultados, depois de ter conquistado a sua quarta Volta à França no Verão passado, a sua primeira Vuelta um mês depois e o seu primeiro Giro já nesta Primavera, o que lhe permitiu tornar-se no terceiro ciclista a ter ganho as três grandes voltas no intervalo de 12 meses (para além de Eddy Merckx e Bernard Hinault) e o primeiro a fazê-lo desde que a Vuelta passou a ser disputada no final da temporada, em 1995. Ter uma equipa de qualidade e totalmente montada para o apoiar, a experiência acumulada e as provas dadas já dadas ao mais alto nível, juntamente com as suas qualidades de trepador e, simultaneamente, de contra-relogista l serão as suas principais armas. E, claro, a hipótese de ver o seu nome juntar-se ao dos melhores dos melhores, que poderá ser um estímulo fundamental nos momentos mais difíceis. A grande incógnita é a de perceber de que forma conseguirá lidar com a pressão de poder conquistar um lugar na história da modalidade e até que ponto se deixará afectar pelas suspeitas de doping que o têm envolvido nos últimos meses.
NAIRO QUINTANA (Movistar), 28 anos
Já vencedor da Vuelta e do Giro, Nairo Quintana planeou a época para ganhar o Tour a corrida que lhe falta no currículo. Há um ano, o colombiano desiludiu, terminando num modesto 12.º lugar, a sua pior classificação em cinco participações. Também por isso, o colombiano apostou forte na edição deste ano e abdicou de participar na Volta a Itália de forma a chegar a França com as “pernas frescas”. De todos os adversários de Froome, Quintana talvez seja aquele que melhor sabe a dificuldade que será derrotar o britânico, já que por duas ocasiões (em 2013 e 2015) foi o primeiro dos últimos, chegando a Paris atrás do camisola amarela. Mas a hipótese de ser o homem que pode fazer cair Froome do pedestal, juntamente com a perspectiva de se tornar apenas no oitavo ciclista do mundo a ter ganho as três grandes voltas podem ser um estímulo importante. Trepador exímio, dos poucos capazes de colocar Froome em dificuldades neste terreno, terá ainda a ajudá-lo uma equipa recheada de bons ciclistas e de onde se destacam os nomes de Mikel Landa e Alejandro Valverde. O grande desafio que se coloca a Quintana é a de perceber se ele consegue chegar ao contra-relógio da penúltima etapa com uma vantagem suficientemente ampla face a Froome e outros rivais que lhe permita compensar as suas fragilidades nesta especialidade.
TOM DUMOULIN (Team Sunweb), 27 anos
Tom Dumoulin tem sido um dos ciclistas que mais luta tem dado a Froome nos últimos tempos. Há poucos meses, no Giro, o ciclista holandês terminou atrás do britânico, ficando a apenas 46 segundos de Froome. Um sinal de qualidade e que apenas veio confirmar outros resultados de bom nível. Em 2017, conseguiu o maior feito da sua carreira ao ganhar a Volta a Itália e, dois anos antes, foi por muito pouco que não venceu a Vuelta, perdendo-a na última etapa de montanha para o italiano Fabio Aru. No Tour, contudo, o melhor que conseguiu até agora foi vencer duas etapas na edição de 2016. Poderosíssimo no contra-relógio – é, aliás, o campeão mundial em título da especialidade – tem que melhorar um pouco mais na alta-montanha se quiser colocar verdadeiramente em xeque o completíssimo Froome. E parte para o Tour sem uma equipa atrás de si com a força da Sky ou da Movistar.
VINCENZO NIBALI (Bahrain-Merida), 33 anos
O italiano foi o único homem que conseguiu vencer o Tour para além de Chris Froome nos últimos cinco anos. Fê-lo em 2014 e só isso faz com que Vincenzo Nibali seja colocado no lote dos candidatos ao triunfo na prova. Ele é, alias, o único antigo campeão a integrar o pelotão deste ano. Mas Nibali mais argumentos para apresentar, pois tal como Froome é dos poucos que pode exibir vitórias no Giro, Tour e Vuelta. Já esta temporada, o ciclista italiano mostrou que mantém as suas qualidades intactas, vencendo a clássica Milão-São Remo, no mês de Março, e deu um sinal de que vai apostar forte no Tour ao abdicar do Giro. A seu favor tem as qualidades de trepador. Contra si tem a ausência de uma equipa que o apoio devidamente ao longo de uma prova com 21 etapas.
Romain Bardet (Ag2r), 27 anos
Romain Bardet é talvez o principal candidato francês à vitória no Tour (e se o conseguir alcança um feito que já não sucede desde 1985, quando Bernard Hinault chegou a Paris vestido de amarelo). Já com cinco presenças na prova, que concluiu sempre, o gaulês esteve perto da felicidade em 2016, quando terminou no segundo lugar do pódio. No ano seguinte, ficou um degrau abaixo e, para além destas posições honrosas, Bardet pode ainda exibir outros bons resultados: venceu sempre pelo menos uma etapa nas últimas três edições da prova tendo mesmo ganho o prémio de combatividade em 2015. Adversário difícil de quebrar na montanha, falta-lhe ter a mesma qualidade no contra-relógio para se assumir com outra consistência ao triunfo final.