A favor do AO90
Resposta ao núcleo do artigo de Nuno Pacheco, publicado a 21 de Junho, com o título “Ficou a Academia, foi-se o bom senso”.
Sou engenheiro. Nunca estudei linguística.
Irrita-me e enerva-me ninguém responder aos sucessivos, insistentes e entediantes artigos de opinião contra o AO90. Em regra, são escritos por jornalistas e escritores porque têm acesso natural aos media e os leitores são levados a pensar: “se estes tipos dizem isto e são jornalistas e escritores, eles, que usam intensivamente a escrita, devem ter razão.”
Penso que o que move estes jornalistas e escritores é principalmente aquilo que alguns já tiveram o dislate de dizer: "Deu-me tanto trabalho aprender a escrever corretamente (eles escrevem correctamente) a nossa querida língua e agora estes gajos mudam tudo, bolas!" (alguns até levaram reguadas por omitirem o c em reta ou em direto).
Segue a transcrição das alterações ao AO90 que Nuno Pacheco considera de “elementar bom senso” intercaladas com os meus comentários: “Mesmo duvidando que um texto tão tecnicamente mal feito e tão prejudicial possa alguma vez ser ‘aprimorado’, as sugestões dadas pela Academia das Ciências de Lisboa respeitavam o mais elementar bom senso.”
1. Pára, péla, pêlo, pôr, pôde, dêmos eram acentuados (diferenciando-se assim de para, pela, pelo, por, pode, demos);
Podíamos acrescentar: colhér, séde, gósto, fórça, bóla, prégar, segrédo, almóço, acórdo (diferenciando-se assim de colher, sede, gosto, força, bola, pregar, segredo, almoço, acordo)
2. Crêem, vêem e lêem recuperariam os respectivos circunflexos;
Que falta faz aqui a acentuação com os circunflexos?
3. A terminação –ámos (pretérito) voltava a ser acentuada, para se distinguir, no tempo verbal, de –amos (presente);
Concordo com esta alteração, ficando esta como a única exceção à regra de não acentuação das palavras graves.
4. Acepção, corrector, espectador e óptica voltariam a imperar sobre aceção, corretor, espetador e ótica;
A mesma questão que se põe no ponto 1. Aqui o c e o p servem para abrir a vogal anterior exceto em óptica, que nem para isso serve.
Neste ponto, é frequente encontrar o argumento “que se perde a etimologia... e dão como exemplo Egito versus Egípcio”. Pois, mas isso é a evolução normal, também nudo em latim deu nu apesar de o d continuar presente em nudismo.
5. Palavras inventadas como interrutor ou concetível seriam abolidas, restaurando-se interruptor ou conceptível;
Concordo com a dupla grafia. Se os brasileiros dizem interrutor e nós dizemos interruptor, por que não havemos de escrever em concordância?
6. Voltava a olhar-se para o hífen com lógica científica, usando-o “nas combinações vocabulares que formem verdadeiras unidades semânticas” (água-de-colónia, braço-de-ferro, pé-de-meia, etc.) e nas expressões onde a soma dos elementos forma sentido único (faz-de-conta, maria-vai-com-as-outras);
Não tenho preferência: digam-me como se deve escrever, eu seguirei a regra estabelecida.
7. Há mais, mas estes exemplos já dão uma ideia do abalo no dito “acordo”.
Venham mais que estes já estão tratados!
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico