Verão quente
O aviso de António Costa aos parceiros com quem tem que negociar o Orçamento do Estado está feito. Se querem dinheiro para investimento público, esqueçam as carreiras. Será que vai ser mesmo assim ou é só início de conversa?
Agora que já acalmou a febre futebolística, tome nota. Há três semanas que os professores estão em greve às avaliações. E continuam nos próximos dias. A plataforma com dez organizações sindicais de professores que promove a greve pede ao Governo a reabertura de negociações para a contagem total do tempo de serviço que foi congelado, nove anos e quatro meses.
Hoje, os oficiais de justiça e funcionários judiciais cumprem o terceiro dia de greve. Exigem uma revisão estatutária e da aposentação e também a contagem do tempo de carreira.
Enfermeiros, assistentes e técnicos de saúde estão em greve por tempo indeterminado às horas extraordinárias desde domingo, o mesmo dia em que regressaram às 35 horas de trabalho semanais em vez das 40 actuais. O que pedem os sindicatos? Uma exigência do cumprimento do acordo colectivo de trabalho, que refere que os enfermeiros têm direito a um horário normal de 35 horas, podendo ser alargado, de forma opcional, com aumento de salário.
Enquanto isto, a Associação Sindical dos Juízes Portugueses ameaça fazer greve em protesto contra a proposta de lei de revisão do Estatuto dos Magistrados Judiciais que será votada esta semana na Assembleia da República. E o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, pediu ontem ao Parlamento “absoluta prioridade” para a lei sindical da PSP, que aguarda há mais de um ano aprovação na Assembleia da República e que está a ser contestada pelo sector.
Para esta sexta-feira está convocada, pela CGTP, uma concentração frente à Assembleia da República "contra as medidas gravosas da revisão da legislação laboral apresentadas pelo Governo". A CGTP, que ficou de fora do acordo de concertação social, não desarma.
É caso para dizer que o Verão vai ser quente. Em vésperas de negociação do Orçamento do Estado, os vários sectores, tanto com o apoio de sindicatos da esquerda como da direita (não se pense que são só de esquerda), levantam a voz.
O Governo está atento. Ontem, o primeiro-ministro, António Costa, na apresentação da requalificação do IP3, começou a ensaiar a resposta que, presume-se, irá repetir nos próximos dias: “Quando estamos a decidir fazer esta obra, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos.” O aviso aos parceiros com quem tem que negociar o Orçamento está feito. Se querem dinheiro para investimento público, esqueçam as carreiras. Será que vai ser mesmo assim ou é só início de conversa?