Vai mas é ovar
Os árbitros ralharam com treinadores quando eles mandaram ovar. Já os jogadores podem passar a partida inteira a mandar ovar. Não será altura de passar a ser falta fazer o gesto de mandar ovar?
O gesto de traçar um ecrã passou de estranha novidade a equivalente visual da vuvuzela. Não há jogador que não aproveite para fazer o gesto. Passou a fazer parte da panóplia de protestos que os jogadores usam para tentar influenciar o árbitro.
Usa-se até para fazer bluff. O jogador que cometeu falta pede o vídeo (o VAR) para parecer que está inocente. Com os fiteiros compulsivos, o subtexto é: "Eu sei que não acredita em mim – mas vá ao vídeo se faz favor, para ver que não estou a mentir."
Usa-se quando não houve falta nenhuma mas deseja-se que o árbitro interrompa a partida, quando ela está a correr bem para o adversário.
Há também uma recomendação optimista: o jogador não viu nada mas pode ser que, com tantas câmaras, se descubra uma malfeitoria qualquer.
Sabe sempre bem aos jogadores dar ordens ao árbitro: "Vai ao VAR" dá "vai ovar", que soa a "já que não vês nada vai pôr um ovo". Não faz sentido, mas desde quando é que a falta de sentido desmotivou um ofendedor?
"Vai ovar!" tem o mérito de permitir ao árbitro uma resposta igualmente peremptória: "Vai desovar!" ou "Desova-me daqui para fora", como quem diz "eu só vou ovar quando me apetecer".
Os árbitros ralharam com treinadores quando eles mandaram ovar. Já os jogadores podem passar a partida inteira a mandar ovar. Não será altura de passar a ser falta fazer o gesto de mandar ovar?
Os árbitros deveriam também ter acesso às opiniões dos comentadores de todos os países porque esses sim, vêem tudo, sabem tudo e nunca se enganam.