Quem vem e atravessa o rio, é no Cais de Gaia que encontra as centenárias caves de vinho do Porto. Com vista para a “cascata são-joanina”, a Sogrape acaba de inaugurar o The House of Sandeman Hostel & Suites e o restaurante The George, nos andares superiores do edifício das Caves Sandeman.
À chegada ao número 3 do Largo Miguel Bombarda, o check-in é feito no amplo hall de recepção, onde todos os hóspedes são recebidos com um welcome drink de Mateus Sparkling. Outrora a sala de provas da Sandeman − ainda se mantêm as “cuspideiras”, escondidas por baixo do balcão corrido à janela −, esta é simultaneamente a zona de bar, cozinha e convívio, com uma longa mesa comum de madeira. A decoração combina a história do local com elementos contemporâneos: o chão em tijoleira, os arcos de pedra e a cortiça remetem para a tradição, enquanto os sofás e os cadeirões transmitem modernidade.
O The House of Sandeman Hostel & Suites quer ser ideal tanto para quem viaja sozinho ou com um grupo de amigos, como com a família, proporcionando um ambiente diferente e diversas experiências, sempre com o vinho em pano de fundo.
No átrio que dá acesso aos dormitórios, mira-nos a mítica figura do Don – imagem de marca da Sandeman, de capa negra e sombrero típico de Jerez –, ladeado por uma vide interior. Por cima das nossas cabeças, telhas espreitam por entre as clarabóias que deixam a luz do dia entrar.
Os beliches do hostel foram concebidos exclusivamente para o espaço por uma designer portuguesa e resultam da desconstrução das pipas de vinho do Porto. Cada cama possui um colchão com 1,20 metros de largura por dois metros de comprimento, um candeeiro de leitura e uma cortina para maior privacidade. As camaratas têm ainda duas a quatro casas de banho completas, que incluem gel de banho e champô para utilização dos hóspedes (que recebem também uma toalha e um cacifo, tudo incluído no preço).
Já o corredor que leva às suítes parece saído de um filme de Wes Anderson, desde o papel de parede com folhas verdes aos pequenos candeeiros vintage e às mãos que seguram os números dos quartos – ou “rumos”, como são chamadas as fileiras de pipas de vinho nas caves. Depois de um passeio pelas cidades do Porto e Gaia numa das bicicletas Órbita – que podem ser alugadas no hostel –, os hóspedes podem repor energias numa das espaçosas e luminosas suítes, nove com vista para o rio Douro e zona ribeirinha e três viradas para os telhados das Caves. Os quartos continuam a aliar aos elementos originais do edifício peças decorativas ligadas à Sandeman e à cidade do Porto, muitas delas provenientes do espólio original da própria marca.
O The House of Sandeman está aberto desde Maio e tem capacidade para receber 67 hóspedes, com 12 suítes e quatro camaratas com 43 camas – ocupadas quase na totalidade, de momento. Dormir numa das suítes pode ir dos 120 aos 180€ por noite, enquanto os preços do hostel rondam os 25 euros.
Das 8h às 11h, o pequeno-almoço é servido. Todos os hóspedes têm esta refeição incluída na reserva: para quem fica no hostel, há leite, café e chá, acompanhado de pão, croissants e fruta; já quem pernoita nas suítes tem direito ainda a ovos, panquecas, fruta laminada e iogurte com granola caseiros, ali confeccionados.
No que diz respeito a actividades e a pequenas particularidades que apostam na diferenciação, o The Sandeman aposta na realização de ateliers de vinho ou de mixologia e concertos vários dias por semana exclusivamente para os hóspedes. Todos os dias, às cinco da tarde, é a hora do chá, com bolo caseiro e biscoitos de oferta. De terça a sábado, os hóspedes são convidados a juntarem-se à mesa para o “jantar da Bó Bina”, onde se misturam idiomas, partilham culturas e se trocam histórias.
O objectivo é levar a experiência Sandeman para além do vinho do Porto e atrair um público jovem e ecléctico para esse produto. Neste sentido, a Sogrape escolheu como parceiros do projecto o The Independente Collective, que detém a unidade de alojamento The Independente Hostel & Suites e os restaurantes e bar The Decadente e The Insólito, em Lisboa. O grupo, nascido pela mão de quatro irmãos, afirma-se como inovador a “reinventar e repensar o conceito da hotelaria de uma forma criativa” e a democratizar o acesso a um “luxo acessível”, nas palavras de Bernardo D’Eça Leal, administrador.
Provar sabores do Douro
Para o almoço ou jantar, o The George Restaurant & Terrace fica mesmo ali ao lado e é um pedaço do vale do Douro no centro de Vila Nova de Gaia. O cardápio do restaurante está a cargo do chef Pedro Limão e há lugar para os sabores típicos do Norte, mas também espaço para novas interpretações dos clássicos, numa viagem inspirada pelos produtos e paladares que podemos encontrar ao longo do percurso que o Douro faz da nascente até à foz. As entradas vão desde tártaro com carne barrosã, cura de atum com rabanete desidratado e leite de amêndoa ao fondant de cogumelos ou amêijoas à Bulhão Pato. Já os pratos principais continuam a ir ao encontro da tradição, com os típicos rojões ou mão de vaca, ao mesmo tempo que é possível experimentar ainda algumas recriações igualmente saborosas, como uns fantásticos rissóis de berbigão, robalo no osso ou uma falsa cabidela de arroz de frango e vinagre balsâmico.
E porque estamos num local especialmente dedicado ao vinho, o The George oferece uma carta com mais de 45 vinhos e espumantes portugueses, não esquecendo as cervejas artesanais e o Vinho do Porto e aguardentes. As sobremesas resgatam de igual modo alguns sabores populares, como é o caso do pudim Abade de Priscos (com gelado cítrico), foie-gras ou mousse de amêndoa.
A decoração aproxima-se do lado exótico e extravagante de George Sandeman, fundador da marca, através de alusões aos safaris africanos que este fazia, combinando a pedra e a madeira com o verde das plantas e bustos de animais da savana. É possível fazer uma refeição completa (entrada, prato, vinho e sobremesa) por cerca de 30 euros (duas pessoas).
Descendo as escadas e seguindo uma instalação do artista de street art Francisco Draw, no rés-do-chão do The George encontra-se ainda um espaço de cafetaria durante o dia, que ao fim da tarde e à noite se reinventa como bar à beira-rio, com bebidas e petiscos, com os cocktails de autor em foco. João Castro e Rita Canela são os mixologistas de serviço e criaram uma série de cocktails especialmente inspirados na história de Portugal e da própria Sandeman.
O Dionísio’s vai buscar as raízes do vinho à Grécia Antiga e arrisca com uma recriação do gaspacho, com Sandeman White, vodka, maçã verde, pepino, tomate e molho inglês. Servido num bule, o Lady Marmelade recupera a tradição do chá das cinco, levada por Catarina de Bragança para Inglaterra no século XVII. Já o Celebration e o Foundation remetem aos primórdios da marca, fundada em 1790. Custam entre 6 e 10 euros. No segundo andar do restaurante existe ainda uma sala de eventos funcional, com cozinha própria e capacidade para cerca de 50 pessoas.
No The House of Sandeman somos convidados a mergulhar na história de uma das marcas mais prestigiadas de vinho do Porto. Com uma localização privilegiada, a unidade de alojamento apresenta um conceito inovador de hospitalidade criativa e propõe uma forma alternativa de viver as cidades do Porto e Gaia.
Texto editado por Sandra Silva Costa
A Fugas esteve alojada a convite do The House of Sandeman