Tendência interna do CDS quer partido a defender touradas

Corrente de opinião quer pressionar Cristas antes da votação sobre o fim das corridas no Parlamento.

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Alfredo Cunha

Há quem goste de ver touradas e se retraia por causa do sofrimento dos animais. O pensamento até já foi admitido publicamente pela líder do CDS, Assunção Cristas, e é para contrariar essa atitude que a Tendência Esperança em Movimento (TEM), corrente interna do partido, organiza no dia 28 uma conferência sobre o tema. Objectivo: pressionar o CDS a assumir uma posição clara a favor das corridas de touros, a uma semana de uma votação no Parlamento para acabar com as touradas ou com o seu financiamento público.

Crítica de algumas posições assumidas por Assunção Cristas, a TEM elogia o empenho da líder do CDS contra a eutanásia. E era essa a posição clara que a TEM, a única corrente oficializada no CDS, gostaria de ver assumida pelo partido sobre as corridas de touros.

A poucos dias da votação dos projectos do PAN e do BE – marcada para dia 6 de Julho - , a TEM promove uma conferência, na sede do partido, para tentar “desfazer mitos” sobre o espectáculo tauromáquico. Só foram convidadas figuras pró-touradas. “É aberta a todos. Não queremos que todos pensem como nós. Queremos que as pessoas fiquem esclarecidas, que decidam em consciência e assente na realidade”, afirmou ao PÚBLICO o porta-voz da tendência Abel Matos Santos. O democrata-cristão acrescenta um outro argumento: “Do outro lado os argumentos são falaciosos e manipuladores da verdade”.

Entre os convidados está Elísio Summavielle, ex-secretário de Estado socialista e actual presidente do Centro Cultural de Belém, que participa como aficionado. Já estão confirmados Hélder Milheiro, representante da Prótoiro, os cavaleiros Victor Mendes e Paulo Caetano, o veterinário e criador de touro bravo Joaquim Grave e o forcado José Fernando Potier.

Abel Matos Santos defende as touradas em Portugal como um legado histórico que o CDS tem de preservar e põe em causa a ideia do sofrimento do animal. “Quem for à conferência vai perceber que o bem-estar do animal é garantido na tourada. O touro e o cavalo realizam-se no espectáculo tauromáquico”, afirmou.

Em Março deste ano, Assunção Cristas disse ao Expresso ver as touradas “como um bailado” mas admitiu que, “se pensar muito muito, muito” no sofrimento do animal, terá pena. Mas há outros dirigentes que são aficionados e que defendem as corridas de touros.

As touradas associadas ao partido já foram uma tradição nos aniversários do CDS, mas deixaram de se realizar nos anos 90. Foi a Juventude Popular que quis retomar a tradição, em 2016, e organizou uma corrida de touros, embora tivesse o apoio “apagado” da direcção de Assunção Cristas, como na altura se queixaram os "jotas".

O CDS vai ter de assumir uma posição no dia 6 quando forem votados os projectos de lei já entregues. A iniciativa do PAN determina a “abolição das corridas de touros em Portugal”, depois de 25 páginas de argumentação. O texto começa com um apontamento histórico, alegando que “a realização de touradas nunca foi consensual na sociedade portuguesa” e que, “ao longo dos últimos séculos, verificaram-se vários períodos em que praticamente deixaram de existir em Portugal”. No projecto, o PAN defende ainda que há um “declínio da indústria tauromáquica” e que é um sector inviável economicamente, referindo-se ainda ao impacto nas crianças e jovens, bem como ao sofrimento dos animais.

No caso do BE, os projectos de lei apresentados na Assembleia da República visam acabar com quaisquer apoios públicos às corridas de touros, não só em termos de financiamento, como também institucionais por parte da Presidência da República, Governo e autarquias. Os bloquistas defendem ainda que a transmissão televisiva das corridas só seja permitida entre as 22h30 e as 6h.

Provedor do militante recebe queixas sobre estatutos

Luís Gagliardini Graça, provedor do militante do CDS nomeado pela Tendência Esperança em Movimento (TEM) já recebeu várias queixas de incumprimento dos estatutos do partido, confirmou o próprio ao PÚBLICO. As situações foram reportadas à direcção e serão esta segunda-feira colocadas numa audiência formal com Assunção Cristas, pedida pela TEM.

Nas reclamações recebidas estão, por exemplo, eleições para delegados ao conselho nacional adiadas e sem data prevista em duas distritais e a falta de informação sobre as contas do partido. As queixas foram enviadas para a secretaria-geral do CDS mas ainda não houve resposta, segundo Gagliardini Graça. O provedor assume-se como um “catalisador para dentro e um íman para fora”, tendo em conta que uma das linhas da tendência é a defesa da transparência no funcionamento do partido. Foi por esse motivo que pediu, no último conselho nacional, o acesso às contas do partido, o que não foi concedido.  

Em funções desde Maio – altura em que a tendência constituiu a sua comissão executiva –, o provedor quer ser a figura que “junta as vozes das bases à direcção do partido, vozes muitas vezes anónimas”, nas palavras de Luís Gargliardini Graça, da concelhia do CDS-Cascais.

Defendendo que devem existir relações institucionais com a direcção do partido e que o seu papel está desligado das relações pessoais, o provedor apela a que a líder do CDS oiça mais os militantes do partido quando tem em marcha a iniciativa de auscultar os portugueses no ciclo Ouvir Portugal.

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