Uma FLIP mais intimista para homenagear Hilda Hilst

O americano Colson Whitehead, a argentina Selva Almada, a russa Liudmila Petruchevskáia e o biógrafo inglês Simon Sebag Montefiore serão alguns dos autores presentes, em Julho, na Festa Literária de Paraty, a somar a outros nomes já anteriormente confirmados, como o francês de origem congolesa Alain Mabanckou ou a portuguesa Isabela Figueiredo.

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Colson Whitehead NUNO FERREIRA SANTOS

A 16.ª edição da FLIP, a Festa Literária Internacional de Paraty, que decorrerá entre 25 e 29 de Julho e irá homenagear a poetisa, ficcionista e dramaturga brasileira Hilda Hilst (1930-2004), terá mais uma vez curadoria de Joselia Aguiar, que promete um programa “mais intimista” e menos ostensivamente político do que o de 2017, dedicado ao escritor carioca Lima Barreto.

Na conferência de imprensa para apresentação do programa de 2018, a curadora explicou que pensa a curadoria “a partir dos projectos literários dos autores homenageados” e que a opção por uma FLIP mais voltada para o "mundo de dentro"  se justifica num ano em que a festa é dedicada a uma autora cujos grandes temas “foram o amor, o sexo, a morte, deus, a finitude, a transcendência”.

A organização da FLIP acredita que também a ligação do público aos autores convidados poderá beneficiar de um ambiente mais intimista com a utilização de uma nova tenda em forma de meia arena e com apenas 500 lugares sentados, mais pequena do que as que acolheram o programa principal em anos recentes. A estrutura será montada na Praça da Matriz de Paraty, precisamente junto à igreja em cujo interior o festival decorreu no ano passado, uma opção que parecia ter funcionado bem, mas que aparentemente não terá continuidade.

Como a estratégia de comunicação da FLIP é a de ir divulgando, em sucessivos momentos, uma parte dos autores convidados, já não sobravam muitas novidades para anunciar esta terça-feira. Ainda assim, ficou agora a saber-se que o elenco incluirá o americano Colson Whitehead, vencedor de um Pulitzer com um romance que conta a história de uma fuga de escravos, A Estrada Subterrânea (2016), publicado em Portugal pela Alfaguara, a veterana ficcionista russa Liudmila Petruchevskáia, com vários títulos editados pela Relógio D’Água, e cujos contos fantásticos lhe têm valido comparações a Gogol, a jovem escritora argentina Selva Almada, autora de Raparigas Mortas (2014), um romance documental ao estilo de A Sangue Frio, de Truman Capote, sobre três raparigas adolescentes assassinadas nos anos 80 (edição portuguesa na D. Quixote), ou ainda o biógrafo inglês de Catarina a Grande, dos Romanov e de Estaline, Simon Sebag Montefiore.

O programa abre na noite de dia 25 de Julho com duas companheiras de geração de Hilda Hilst, a actriz Fernanda Montenegro e a compositora Jocy de Oliveira, pioneira da música de vanguarda brasileira. Ao longo do festival, outras mesas abordarão esta autora de obras cada vez mais reconhecidas como marcos da literatura brasileira da segunda metade do século XX, como os poemas de Cantares de Perda e Predilecção (1980) ou a ficção de A Obscena Senhora D (1982) ou Rútilo Nada (1993).

Logo na manhã do dia seguinte, a segunda mesa do programa (que inclui 18) reunirá a realizadora Gabriela Greeb e o director de som português Vasco Pimentel, que falarão das fitas magnéticas que Hilst gravou nos anos 70, quando andava pelo jardim da sua Casa do Sol, em Campinas, de gravador na mão, a fazer perguntas em voz alta aos espíritos de amigos e escritores mortos, incluindo Clarice Lispector ou Camus, e a tentar registar o som das suas eventuais respostas.  Foi justamente a partir desta experiência que Greeb filmou a docuficção Hilda Hilst Pede Contacto.

Ainda no dia 26, será apresentado um vídeo com a escritora portuguesa Maria Teresa Horta, entrevistada pelas poetisas brasileiras Júlia de Carvalho Hansen e Laura Erber, e a argentina Selva Almada, que escreve sobre histórias reais de feminicídio, dialogará com a académica e activista Djamila Ribeiro, que lança dentro de dias o livro Quem Tem Medo do Feminismo Negro?

No dia 27, o francês de origem congolesa Alain Mabanckou, a quem já chamaram "o Samuel Beckett africano" e que foi finalista do prémio Man Booker International em 2015, será entrevistado ao vivo, André Aciman, um escritor judeu egípcio radicado nos Estados Unidos, conversará com a franco-marroquina Leila Slimani, cuja Canção Doce (edição portuguesa da Alfaguara) venceu o Goncourt em 2016, e a ensaísta Eliane Robert Moraes discutirá a dimensão simultaneamente corpórea e mística da obra de Hilst, numa mesa que contará ainda com a actriz Iara Jamra, que encarnou aquela que é porventura a mais famosa personagem da autora, Lori Lamby, uma menina de oito anos incentivada pelos pais a vender o corpo em O Caderno Rosa de Lori Lamby (1990).  

O historiador britânico Simon Sebag Montefiore, a romancista portuguesa Isabela Figueiredo, autora de Caderno de Memórias Coloniais (2009) e A Gorda (2016), e a russa Liudmila Petruchevskáia são alguns dos escritores que intervirão no dia 28. Antes de terminar, no domingo, com a habitual sessão Livro de Cabeceira, durante a qual os autores convidados lerão trechos dos seus livros preferidos, esta FLIP 2018 incluirá ainda uma prometedora sessão com o já referido Colson Whitehead e o estreante-prodígio Geovani Martins, um jovem autor da favela do Vidigal cujo livro de contos O Sol na Cabeça, lançado este ano na Companhia das Letras, já tem publicação prevista em algumas das maiores editoras mundiais.

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