Muito se tem debatido ultimamente a temática dos cuidados informais, desde os impactos que esta tarefa pode ter do ponto de vista individual e familiar, até aos seus contornos do ponto de vista político, económico e social. Em particular, destaca-se a discussão parlamentar para a criação do Estatuto do Cuidador Informal e que a par disso tem trazido para o debate público uma questão central: quais as necessidades destas pessoas e das pessoas cuidadas?
Sabe-se que a existência de cuidadores informais, em particular aqueles que têm a seu cargo pessoas idosas, está associada a um menor risco de eventos adversos (como quedas, hospitalização, institucionalização e morte), permitindo à pessoa dependente permanecer o máximo de tempo possível no seu contexto, com benefícios já amplamente detalhados na literatura. No entanto, em Portugal, continuam a escassear estudos de grande escala que analisem a interdependência entre o cuidador-pessoa cuidada em termos económicos, sociais e de saúde.
No âmbito dos vários esforços realizados no território nacional para fazer o levantamento das necessidades dos cuidadores informais, destacam-se os resultados apresentados em 2016 pelo Estudo “Necessidades de Cuidados a Pessoas com Demência”, realizado no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e financiado pela Direção-Geral de Saúde. Este estudo destacou necessidades ao nível da cognição, visão, deambulação, quedas, doenças crónicas, transporte e finanças dos utentes idosos dos cuidados de saúde primários (CSP) com problemas no domínio do estado mental1. A par destas, foi ainda possível identificar necessidades nos cuidadores destas pessoas, nomeadamente na criação de serviços de alívio ao cuidador, regulação laboral, assistência com as despesas e gestão de comportamentos, entre outras.
Mais recentemente, foram também conhecidos os resultados do relatório “Medidas de Intervenção junto dos Cuidadores Informais” e que envolveu representantes da Saúde, da Administração Central do Sistema de Saúde, Instituto de Segurança Social, Direção-Geral da Segurança Social e do Instituto Nacional para a Reabilitação e no qual foram apresentadas algumas sugestões de medidas para este grupo2, nomeadamente medidas para: as áreas da saúde e social (e.g. criação de um Plano de Apoio ao Cuidador — PAC; facilitar o acesso a determinadas consultas de especialidade, criar uma linha de apoio permanente ao CI); as áreas laboral e das finanças (e.g. promover benefícios para diminuir os riscos de pobreza, criar estratégias para a conciliação com o trabalho, permitir o uso de licenças de emergência em contexto laboral); a área da investigação (e.g. recolher dados para a melhoria contínua sobre a prestação de cuidados informais, avaliar a satisfação dos cuidadores e dos utentes nos vários sectores).
Atualmente, um grupo de investigação sobre envelhecimento do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis.UP) tem em curso um projeto intitulado Cuidado Informal e Fragilidade na Idade Avançada, que pretende analisar as exigências da prestação de cuidados informais numa população muito envelhecida, bem como identificar as principais dificuldades/necessidades deste grupo.
As necessidades (não) satisfeitas são importantes indicadores de qualidade de vida, pelo que, considerando as várias necessidades identificadas neste grupo, se impõe a criação urgente de medidas específicas. Além dos impactos negativos decorrentes da prestação de cuidados, um insuficiente suporte de saúde, social, económico e legislativo colocam o cuidador numa situação de maior vulnerabilidade e em risco de sobrecarga extrema.
1 Teixeira et al (2017). Screening of Dementia in Portuguese Primary Care: Methodology, Assessment Tools, and Main Results. Frontiers in Medicine, 4, 197; 2 Teixeira et al (2017). Medidas de intervenção junto dos cuidadores informais. Documento Enquadrador, Perspetiva Nacional e Internacional. Consultado a 1 de Maio de 2018 em http://rotass.cnis.pt/biblioteca-digital/outros-estudos-de-ambito-nacional-e-internacional/doc_cuidador_informal_vf-set-2017/
Gerontóloga, investigadora do CINTESIS.UP