Kiev revela que morte de Babchenko foi encenada para despistar quem o queria matar
O jornalista russo Arkadi Babchenko deu uma conferência de imprensa em que revelou que a sua morte foi encenada em conjunto com as autoridades ucranianas para desmascarar uma tentativa de assassínio.
O jornalista russo Arkadi Babchenko, que foi notícia porque teria sido morto à porta de casa, em Kiev, na Ucrânia, está, afinal, vivo. A notícia da sua morte era uma encenação montada entre ele e as autoridades de Kiev, no âmbito da investigação sobre as ameaças de morte que estava a receber há mais de um ano e o obrigaram a mudar de país.
A notícia da sua morte, dada com bastantes detalhes, fazia, afinal, parte de uma encenação montada entre ele e as autoridades de Kiev, no âmbito da investigação sobre ameaças de morte de que estava a ser alvo há mais de um ano, e que o forçaram a deixar a Rússia e a ir viver para a Ucrânia, como tinha explicado num artigo no The Guardian, em Fevereiro de 2017.
Babchenko desencadeou uma onda de indignação na Rússia com uma mensagem no Facebook quando o avião que transportava o famoso coro militar Alexandrov Ensemble caiu no mar Negro, em viagem para a Síria, onde iria actuar para as tropas russas lá colocadas. “Não insultei ninguém, não apelei a nada. Só recordei aos meus leitores que a Rússia estava a bombardear Alepo de forma indiscriminada, sem reconhecer que dezenas de crianças estavam a morrer por causa dessas bombas. Também chamei agressora à Rússia”, explicava.
A notícia da sua morte gerou uma onda de indignação por causa da suspeita do envolvimento de Moscovo nesse assassínio – uma acusação feita por políticos ucranianos, que culpavam o Kremlin de ter querido silenciar uma voz crítica.
O primeiro-ministro ucraniano, Volodimir Groisman, acusou a Rússia de estar envolvida neste homicídio. “A máquina totalitária russa não lhe perdoou a honestidade e os princípios”, escreveu Groisman, no Facebook. Falta saber se o próprio governante foi enganado, ou se, pelo contrário, participou voluntariamente nessa encenação, acusando o Governo russo de algo que não tinha acontecido.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Moscovo, Serguei Lavrov, considerou que esta encenação é "uma provocação anti-russa."
Babchenko, de 41 anos, é um veterano das guerras da Tchetchénia, onde morreram dezenas de milhares de pessoas, tanto russos como tchetchenos. Passou a escrito as memórias do seu envolvimento nessa guerra, participou como candidato numas eleições não oficiais organizadas pela oposição em 2012, diz a BBC, e denunciou as acções da Rússia na Ucrânia Oriental e na guerra na Síria.
Esta quarta-feira, o jornalista surgiu à beira das lágrimas para explicar que tinha participado numa operação especial ucraniana para sabotar uma operação russa contra a sua vida. “Quero pedir-vos desculpa por tudo o que passaram. E em especial à minha mulher, pelo inferno que a fiz passar”, declarou, citado pela Reuters. Acrescentou que a operação estava a ser preparada há dois meses.
Agradeceu aos Serviços de Segurança da Ucrânia (SBU) por terem salvo a sua vida. E disse ainda que outras acções terroristas tinham sido travadas – sem especificar do que falava.
O chefe do SBU, Sergei Gritsak, disse que havia um prémio de 30 mil dólares pela morte de Babchenko.