Os esqueletos de betão das “cidades-fantasma” espanholas

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A crise económica que se abateu sobre a Europa, em 2008, atingiu vigorosamente os alicerces da economia espanhola. A “espectacular” explosão da bolha imobiliária que se formara nas décadas anteriores resultou em milhões de milhões de euros em créditos malparados na banca espanhola e numa inversão da tendência no investimento e no consumo. O desfecho: desvalorização imobiliária e milhares de projectos urbanísticos interrompidos, falhados, condenados ao abandono. Em 2011, o Censos levado a cabo pelo Governo espanhol apontava para a existência de 3,4 milhões de casas vazias. Muitas dessas estão concentradas naquilo que a imprensa espanhola passou a denominar “cidades-fantasma” — grandes empreendimentos habitacionais, construídos nas zonas periféricas das cidades espanholas, que resultaram de um “impulso estonteante dos investidores no sentido de rentabilizar ao máximo os empréstimos baratos e a conjuntura legal favorável” e que nunca conheceram um termo ou um propósito.

Quando o fotógrafo Markel Redondo realizou as primeiras viagens para “documentar as cidades-fantasma” espanholas, em 2010, deparou-se com “o resultado mais imediato da crise”, explicou ao P3, em entrevista. “Todos os lugares tinham características similares: grandes projectos urbanísticos que os construtores, falidos, se viram forçados a interromper.” Em 2018, quase dez anos depois, Markel regressou aos locais que tinha fotografado na primeira parte do projecto Sand Castles. “Tinha interesse em perceber o que aconteceu a estes lugares, como envelheceram e se tinham encontrado uma vida melhor”, justificou. Mas nada aconteceu, nada mudou no intervalo de oito anos. Revisitar os lugares permitiu-lhe apenas criar um novo registo fotográfico dos locais e ressuscitar questões sobre estes espaços, que dirige aos responsáveis políticos e à sociedade civil espanhola. “Em Espanha, há muitas pessoas que não têm onde viver condignamente. Num país onde há mais de três milhões de casas vazias, como é possível que isso aconteça?”

O problema não parece ter uma solução simples. “Estes grandes projectos são um peso enorme para Espanha. É muito caro terminar a sua construção — não existe, sequer, vontade de fazê-lo — e destruí-los pode custar tanto como terminá-los. Por isso, permanecem suspensos no tempo, esquecidos.” Para Markel Redondo, é importante não esquecer os erros do passado, para evitar repeti-los no futuro. “Fala-se de uma nova bolha imobiliária quando ainda temos estes cadáveres de betão sobre a paisagem. Interessa-me saber o que vai acontecer aos espaços naturais que foram brutalmente alterados pela construção destes empreendimentos. Isto porque, em geral, eles foram construídos em lugares privilegiados, em bonitas zonas de montanha ou junto ao mar. Deveria haver debate sobre o tema. Deveríamos apontar o dedo aos responsáveis. Caso contrário, continuaremos a construir castelos de areia.”

O project Sand Castles (parte II) foi o vencedor do DJI Drone Photography Awards, um concurso de fotografia de drone promovido pelo British Journal of Photography.