Governo desautoriza CP na redução da oferta na linha do Oeste

Empresa diz que não tem material circulante e quer acabar com dez comboios diários e com os directos das Caldas da Rainha para Coimbra.

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Os cortes que a CP quer fazer devem-se ao facto de a empresa não ter comboios SANDRA RIBEIRO

“O Governo defende o reforço, e não diminuição, do serviço ferroviário, tendo entretanto reforçado essa sua posição junto do Conselho de Administração da CP”. Esta a resposta do Ministério do Planeamento e das Infraestruturas às intenções da CP em reduzir, a partir de 10 de Junho, a sua oferta na linha do Oeste.

A empresa, que há dois meses já tinha eliminado duas circulações diárias entre Torres Vedras e Caldas da Rainha, pretende agora acabar com mais dez comboios: seis entre Caldas e Leiria e quatro entre Torres Vedras e Caldas da Rainha.

Nos seus planos está também acabar com as três ligações directas (em cada sentido) da linha do Oeste para Coimbra, um serviço inaugurado em 2012 e que se tem revelado um sucesso.

Questionado pelo PÚBLICO, fonte oficial do ministério que tutela a CP, disse que “o governo não teve conhecimento prévio desta decisão”.

Nos planos da CP, os comboios rápidos entre Caldas da Rainha e Coimbra passam a regionais com paragem em todas as estações e terminam a sua marcha em Bifurcação de Lares, um apeadeiro perdido no meio dos arrozais do Mondego, mas onde passa a linha Figueira da Foz – Coimbra. O objectivo é que os passageiros aí mudem de comboio, o que penaliza a viagem entre o Oeste e a linha do Norte. Por exemplo: para se fazer os 85 quilómetros entre Leiria e Aveiro o cliente da CP será obrigado a apanhar três comboios.

O fim destas ligações directas para Coimbra tem um carácter também simbólico. Quando em 2011 o recém formado governo de coligação PSD/CDS-PP decidiu fechar o serviço de passageiros da linha do Oeste a norte das Caldas da Rainha, a contestação das populações e dos autarcas levou o então secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, a recuar nessa medida.

Um estudo técnico apresentado pelos municípios atravessados pela linha do Oeste demonstrou a importância dos serviços directos para Coimbra, o que levou a CP a implementá-los, tendo mais tarde o próprio presidente da CP, à época, Manuel Queiró, a reconhecer que foram um êxito.

Mas o que levou a CP a realizar cortes tão drásticos na sua oferta? Um motivo simples: a empresa que se chama Comboios de Portugal não tem... comboios.

A frota de material diesel da transportadora é composta por 43 automotoras (das quais 20 são alugadas à sua congénere espanhola Renfe), mas dez estão imobilizadas nas oficinas devido a avarias ou à espera de cumprir os ciclos obrigatórios de manutenção.

Acontece que a EMEF, empresa de manutenção do grupo CP, não consegue dar conta do recado. Falta-lhe mão-de-obra porque o governo, no âmbito da sua política de cativações, não tem autorizado a contratação de pessoal.

Acresce que a recente greve a meio tempo do pessoal da EMEF, que durou cinco semanas, veio complicar ainda mais uma situação que já era caótica.

Por isso os comboios imobilizados acumulam-se à entrada das oficinas e a CP tem cada vez menos material a circular. As automotoras que sobram têm assim de fazer mais quilómetros e por isso precisam mais rapidamente de manutenção e estão também sujeitas a mais avarias.

Fonte oficial da CP disse ao PÚBLICO que dentro de poucos meses 20 a 25% do parque de material da empresa estará parado.

E perante isto a solução é cortar na oferta e reduzir o número de comboios e de quilómetros percorridos.

O ministério porém, é que não está de acordo e continua a defender o “reforço do serviço ferroviário”. O PÚBLICO perguntou à CP como espera dar satisfação a estas orientações da tutela, mas não obteve resposta.

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