Pyongyang rejeita desnuclearização “unilateral” e ameaça cancelar cimeira com EUA
Respondendo ao conselheiro de Segurança norte-americano, John Bolton, os norte-coreanos afirmam que não têm interesse numa desnuclearização "unilateral" ao estilo líbio.
Horas depois de ter cancelado uma reunião com a Coreia do Sul, a Coreia do Norte ameaçou desmarcar a cimeira com os EUA, marcada para 12 de Junho, se os norte-americanos continuarem a insistir na entrega unilateral de armas nucleares. De acordo com o primeiro vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Kim Kye Gwan, o país não tem interesse numa reunião com os EUA se se basear em exigências “unilaterais” ao estilo líbio.
O oficial norte-coreano aponta ainda o dedo ao conselheiro de segurança norte-americano, John Bolton. O diplomata conservador já veio a público dizer que seria “perfeitamente legítimo” atacar a Coreia do Norte e que a desnuclearização da península devia seguir o exemplo da Líbia. As declarações fizeram soar os alarmes na Coreia do Norte, devido às repercussões que esse acordo teve no poder líbio e no regime de Khadafi.
“Já tínhamos referido a qualidade de Bolton no passado, e não iremos esconder o nosso sentimento de repugnância em relação a ele”, disse Kim Kye Gwan à agência noticiosa norte-coreana KCNA. Kim já tem experiência nas conversações com os EUA.
A mesma agência escreveu que o futuro da cimeira norte-coreana e as relações bilaterais entre os dois países “seriam claras” se Washington falasse de “uma desnuclearização como a da Líbia” para a Coreia do Norte. De acordo com Kim, o país rejeita imposições que o dirijam para uma situação como a “da Líbia ou do Iraque, que colapsaram devido à cedência dos seus países aos grandes poderes”, cita a BBC.
A promessa de desnuclearização, nascida das conversações com a Coreia do Norte e dos encontros preliminares com os EUA, não passa disso mesmo: uma promessa, ainda sem contornos definidos.
A Coreia do Norte comprometeu-se a acabar com os testes nucleares e a desmantelar as suas centrais em troca de apoio económico internacional – e até convidaram os media estrangeiros para assistirem a tudo – mas agora Pyongyang mostra desinteresse numa negociação que coloque o país “a um canto”. “Isto obriga-nos a reconsiderar se aceitamos a reunião entre a Coreia do Norte e os EUA”, disse Kim Kye Gwan, citado pela Reuters.
O mesmo responsável disse também que Trump se tornaria “um Presidente falhado” se seguisse o caminho dos seus antecessores: o da desnuclearização norte-coreana a todos os custos.
O cancelamento da reunião com o Sul, a apenas duas horas do seu início, foi motivado pelos exercícios militares conjuntos entre a Coreia do Sul e os EUA, tidos como provocação pelo Norte, que acha que servem de preparação para uma invasão. Os exercícios, que envolvem mais de 100 aviões de guerra, são “absolutamente defensivos”, de acordo com o Ministro da Defesa sul-coreano, Song Young-moo, e não serão cancelados.
Para Pyongyang, as manobras representaram um “desafio flagrante” ao acordado na cimeira entre o Norte e o Sul, na “aldeia das tréguas” de Panmunjom, na fronteira entre os dois países, em Abril. Durante a reunião, os dois líderes concordaram “acabar com todos os actos hostis”, fontes de “tensão militar e conflito”.
A porta-voz do departamento de estado norte-americano, Heather Nauert, disse que EUA não receberam nenhuma comunicação da Coreia do Norte.
“Kim Jong-un disse anteriormente que compreende a necessidade e a utilidade da continuação dos exercícios militares conjuntos entre os EUA e a República da Coreia”, afirmou a porta-voz Heather Nauert, numa conferência de imprensa. “Não tivemos nenhuma notificação formar ou informal de nada”, afirmou. “Vamos continuar a planear as reuniões”.