CDS Madeira: A hora de Rui Barreto?
Em 2015, no congresso que encontrou o sucessor de José Manuel Rodrigues, Rui Barreto recuou na candidatura à liderança em nome da unidade do partido. Agora, prepara-se para ir até ao fim.
É difícil olhar para José Manuel Rodrigues e resistir às comparações com Paulo Portas. Ambos vieram do jornalismo. Ambos chegaram à política sensivelmente na mesma altura. Ambos coexistiram nas lideranças do CDS.
Rodrigues, um antigo pivot da RTP-Madeira, chefiou o partido no arquipélago entre 1997 e 2015. Portas foi líder nacional entre 1998 e 2016, com um intervalo de dois anos pelo meio.
Pensou-se que mesmo o afastamento de José Manuel Rodrigues seria também um breve intervalo quando, no início de Janeiro, num artigo de opinião no DN-Madeira, o histórico dirigente do CDS-Madeira elencou um conjunto de “grandes causas” que deveriam constar na agenda de governação do partido. Duas semanas depois, no mesmo espaço, anunciou o regresso à “actividade partidária activa” e foram poucos os que não leram ali um posicionamento para uma candidatura à liderança.
Mas não. Nos últimos dias, o antigo líder dos centristas madeirenses reuniu com Rui Barreto, que se tem posicionado para assumir a liderança do partido. Da conversa, saiu um apoio claro em torno daquele em quem Rodrigues vislumbra o “futuro” do CDS-Madeira. “É o candidato natural para o partido”, defende José Manuel Rodrigues ao PÚBLICO, destacando a juventude (tem 41 anos) e a experiência política do seu antigo vice-presidente (foi deputado em São Bento, é deputado na Madeira e vereador no Funchal).
Esta certeza, admite Rodrigues, foi construída nas conversas recentes entre os dois, e solidificada na necessidade do partido, que lidera a oposição na Assembleia Regional da Madeira, reencontrar a estabilidade que perdeu. O ano de eleições regionais, que será 2019, está já ao virar da esquina e o CDS poderá ter uma palavra numa solução de governo, à direita ou à esquerda.
O próprio José Manuel Rodrigues, que se demitiu após o desaire nas legislativas de 2015, em que o CDS perdeu o deputado que tinha na Madeira e viu o Bloco de Esquerda conseguir eleger um parlamentar, reconhece que o “processo de sucessão foi dramático”. Agora, com o congresso marcado para 21 e 22 de Julho, defende uma transição pacífica da actual liderança de António Lopes da Fonseca, que já disse que não se recandidata, para Rui Barreto.
Rodrigues aponta o “bom exemplo” da passagem de testemunho protagonizada por Paulo Portas e Assunção Cristas. “É neste nosso e bom exemplo que o CDS da Madeira deve pôr os olhos no próximo congresso”, sublinha, acrescentando: “temos que reunir os melhores, os do passado e os do presente, em torno de um líder com futuro como o Rui Barreto”.
Já Barreto, (ainda) não diz ao que vai. Em 2015, no congresso para a sucessão de José Manuel Rodrigues, chegou-se à frente, acabando depois por recuar em nome de António Lopes da Fonseca. Perante um congresso em polvorosa - e depois de outro candidato, em protesto contra a impossibilidade de votar alterações estatutárias, ter abandonado os trabalhos e levado quase metade dos congressistas com ele -, Lopes da Fonseca pediu, em nome da “necessária unidade” do partido, que Barreto retirasse a candidatura. Em contrapartida, oferecia-lhe a liderança parlamentar e seria o primeiro subscritor de uma candidatura deste em 2018. Lopes da Fonseca ficou com o partido, para tentar “unir as diferentes sensibilidades”, mas não têm sido anos fáceis.
Talvez por isso Barreto seja cauteloso. “Tenho reunido com militantes e com as várias estruturas do partido para saber quais as preocupações e anseios”, explica ao PÚBLICO, recusando, para já, assumir-se como candidato. O apoio de José Manuel Rodrigues, de Lopes da Fonseca e muitos outros militantes deixa-o “satisfeito”, mas uma “clarificação” sobre a candidatura só acontecerá mais para o final deste mês.
“Quero primeiro ouvir os militantes, antes de tomar qualquer decisão”, ressalva Barreto, olhando já para 2019. As últimas sondagens apontam para a perda da maioria absoluta do PSD, daí que o CDS poderá ser parte de um projecto de estabilidade governativa. Rodrigues não coloca de parte uma aliança à esquerda, desde que não seja “radical”, enquanto Rui Barreto coloca enfâse na necessidade do partido apresentar um projecto ganhador.
“O CDS é líder da oposição na Madeira e, no plano autárquico, com uma câmara municipal, uma vice-presidência e sete juntas de freguesia, é também um partido relevante”, argumenta.
Depois de PS e Bloco de Esquerda terem, já este ano, eleito novas lideranças a pensar nas regionais do próximo ano, o CDS é o partido que se segue.