PSD quer investigar outros ex-ministros de Sócrates

Sociais-democratas falam em “teia” de pagamentos a decisores políticos e prometem não deixar cair a polémica

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Fernando Negrão marcou pontos na sua bancada pela prestação no último debate quinzenal com o primeiro-ministro Daniel Rocha

Afinal não é só o caso do ex-ministro Manuel Pinho e até parece que o PSD já adivinhava, quando, na semana passada, defendeu a necessidade de uma averiguação “ampla” a uma “teia” de pagamentos de privados a decisores públicos. Com a notícia da revista Sábado a dar conta de que pode haver outros antigos ministros de José Sócrates arguidos no caso das Parcerias-Público Privadas (PPP), o PSD promete dar gás à estratégia de responsabilização política de membros daquele executivo socialista, alguns dos quais figuram no actual Governo de António Costa.

Os casos de Manuel Pinho, que alegadamente recebeu um salário do Grupo Espírito Santo enquanto era ministro, e de outros ministros do Governo de Sócrates poderão não ser idênticos. O PSD faz essa distinção, mas não quer apenas incidir sobre quem recebeu de privados indevidamente, mas também apurar responsabilidades políticas das decisões que tomaram - e que prejudicaram o país, segundo fonte social-democrata.

O PSD de Rui Rio teve algumas dúvidas sobre esta estratégia – o líder considerou até arriscado trazer o caso Sócrates para a agenda mediática –, mas acabou por dar indicações para o líder parlamentar avançar no debate quinzenal, na interpelação directa a António Costa.

Essa interpelação aguerrida acabou por gerar uma onda de apoio a Fernando Negrão na reunião da bancada desta quinta-feira. Os que não gostaram ficaram em silêncio. Segundo relatos feitos ao PÚBLICO, vários deputados deram o seu apoio a esta estratégia. Na resposta, Fernando Negrão assegurou que o assunto não é para deixar cair, embora tivesse reconhecido que não vai ser fácil levar isto por diante.

Um dos deputados, Luís Campos Ferreira, sugeriu até que se ponderasse uma comissão de inquérito sobre os casos de vários ex-governantes socialistas que, recordou, levaram o país à bancarrota. O ex-ministro da Defesa José Pedro Aguiar-Branco defendeu que o PSD tem de continuar e “não largar o osso até às eleições”. 

Vários sociais-democratas alertaram, no entanto, para o risco desta estratégia. Não só porque a poeira levantada pode recair sobre o PSD, mas sobretudo por causa da aproximação que Rui Rio fez ao Governo de António Costa. Ou seja, o PSD tem de se entender sobre o que quer: se pretende fazer acordos com o PS, não pode estar a acusar ministros deste Governo.

CDS: a prudência e o ataque

O CDS não quis ficar atrás do PSD e lançou a agenda da justiça – em sintonia com o Presidente da República – depois de o tema da saúde ter dominado a intervenção de Assunção Cristas nos últimos meses. Este impulso do CDS sobre os casos dos ex-ministros de Sócrates aconteceu depois de, num primeiro momento, quando se soube do caso Pinho, o partido ter optado por não intervir. Na reunião da comissão política da passada quinta-feira, houve vozes a defender que o CDS não podia ficar atrás do PSD e que deveria também ter iniciativa política. A prudência manteve-se  no discurso de Assunção Cristas no final da comissão executiva de quarta-feira: fez a distinção entre os casos judiciais e as responsabilidades políticas e assegurou que o seu foco é o Governo actual, e não o passado.

Mas dá um salto para tentar liderar a agenda da justiça: pede uma audiência ao Presidente da República a que se seguirão outras com os agentes do sector. Entre os mais próximos de Cristas houve até quem alertasse para o excesso de Marcelo na agenda do CDS, mas acabou por se concluir que a audiência é necessária também para responsabilizar o Presidente da República, depois de ter desafiado os partidos a legislarem já sobre o combate à corrupção.  

Dias depois de o discurso interno ter sido o da prudência sobre casos judiciais pendentes que atingem ex-ministros socialistas, eis que Assunção Cristas rompe com essa linha no debate quinzenal, ao reforçar a colagem do actual Governo ao núcleo duro do executivo de Sócrates. Um dia depois, o CDS avançou com a disponibilidade para uma revisão constitucional a propósito da justiça. Durou poucas horas. O PS disse que este não é o momento, o PSD atirou com um "logo se vê". Agora, Cristas segue para o Palácio de Belém.

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