Era só isto?
Ilha dos Cães é a primeira decepção valente diante da filmografia de Wes Anderson.
Reiteramos que, de Bottle Rocket (1996) a Moonrise Kingdom (2012), Wes Anderson nos parece um dos mais inventivos e originais cineastas do moderno cinema americano, mas se Grand Budapest Hotel (2014) já dava sinais de um cansaço resolvido em fuga para a frente (pelo excesso, pela acumulação, pela intensificação da sinalética do mundo e do cinema “wesandersonianos”), esta Ilha dos Cães é a primeira decepção valente. Parece um filme, em simultâneo, com coisas a mais e coisas a menos: demasiada “informação”, demasiado detalhe, demasiada insistência em aspectos decorativos (a invenção ou reinvenção de um “Japão” entre o folclore tradicional e o cyber-punk), para uma inesperada escassez narrativa, ou mesmo aridez, falha de inspiração e de momentos verdadeiramente fortes.
Claro que não é nulo, que algumas sequências revelam a imaginação de Anderson (quase) em pleno, que agora sob a forma de matilhas os mesmos temas e os mesmos interesses (as “equipas” como substitutos de uma família, os órfãos e as figuras paternas pouco ortodoxas) continuam a revelar-se, e que, de maneira mais acabada ainda do que em O Fantástico Sr. Raposo (2009), Ilha dos Cães mostra que para Wes não existe praticamente diferença alguma entre a “animação” e a “acção real”. Mas nem a total coerência com que o filme habita o universo do seu autor impede que, terminada a projecção, nos perguntemos, com surpresa decepcionada, “já está, era só isto?”.