Um grupo de investigação da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto está a desenvolver um projecto que visa retirar os compostos bioactivos presentes na casca da amêndoa, podendo estes ser aplicados nas indústrias alimentar e farmacêutica.
"Se a natureza usa a casca da amêndoa para proteger a semente, quisemos saber de que modo essa protecção ocorre. Foi possível verificar que a casca da amêndoa é uma fonte natural de compostos bioactivos e fenólicos, bem como de antioxidantes", disse à agência Lusa o investigador Pedro Fontes, um dos responsáveis pelo projecto.
Segundo explicou, a casca da amêndoa utilizada neste projecto, uma espécie de Trás-os-Montes, é um subproduto da indústria agroalimentar pouco valorizado. Neste projecto, através da maceração (operação que consiste em retirar ou extrair de uma substância os seus princípios activos, colocando-a num líquido) dessas cascas com água quente, os investigadores obtêm um extracto aquoso, constituído por compostos bioactivos. Terminado o tempo de extracção, elimina-se a água utilizada para o processo, restando somente o extracto concentrado.
As cascas poderão continuar a ser utilizadas como biomassa. Este processo, afirmou o investigador, não recorre à utilização de químicos nem a transformações, sendo um método "sustentável, amigo do ambiente e responde às políticas actuais da economia circular". Pedro Fontes e a equipa acreditam que, devido aos seus componentes, o extracto obtido pode ter um valor elevado, podendo ser utilizado na indústria alimentar, de suplementos e de cosmética. Dependendo da sua composição e das actividades demonstradas, o extracto poderá ainda ser usado noutras aplicações, como, por exemplo, conservante em formulações farmacêuticas.
Este "é mais um dos produtos pouco valorizados, usado como biomassa, que pode ter outras aplicações rentáveis, respondendo às necessidades e exigências do mercado actual de produtos naturais", substituindo os "sintéticos", referiu Pedro Fontes. "Nos dias de hoje, os consumidores têm um maior cuidado com a sua saúde e muitos têm demonstrado interesse em adquirir produtos de origem natural, em detrimento de produtos sintéticos", acrescentou.
Os próximos passos do projeto passam pela caracterização, identificação e quantificação dos compostos bioativos extraídos da casca da amêndoa, seguindo-se o estudo da viabilidade económica do processo e das possíveis aplicações, passando para uma escala industrial caso seja sustentável.