Um campeonato espremido até à última gota

A luta pelo título, o acesso à Europa e o fardo da despromoção. A duas jornadas do fim da Liga , continua praticamente tudo por decidir, ainda que o FC Porto tenha dado um passo de gigante rumo à conquista do grande objectivo da época.

Foto
EPA/HOMEM DE GOUVEIA

A vantagem do FC Porto é gritante, mas Sérgio Conceição lembra que o título ainda não está no bolso. O empate técnico entre Benfica e Sporting é um aperitivo para o derby do próximo fim-de-semana, mas o Sp. Braga também espreita um lugar no pódio. Os dois lugares mais indesejados da tabela têm inquilinos de longa data, mas as contas da despromoção estão longe de estarem fechadas. A Liga 2017-18, uma da mais conturbadas no plano da litigância fora dos relvados, guardou o melhor para o fim e, ao contrário da maioria das congéneres europeias, respira mais equilíbrio generalizado do que em anos recentes.

O que a surpreendente derrota do Benfica, em casa, diante do Tondela, veio acrescentar ao campeonato foi maior indefinição na atribuição do segundo lugar. Em vez de continuar a olhar para cima, na esperança de ver o líder tropeçar já com a meta ao virar da esquina, o candidato ao “penta” fica agora obrigado a defender uma posição que tem como recompensa a entrada na 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Um prémio menos compensador do que nos últimos anos, mas ainda assim uma possibilidade real de entrar, ainda que aos solavancos, na roda dos milhões da UEFA.

É isso também que o Sporting procura. Ainda que nenhum dos “grandes” de Lisboa tenha perdido matematicamente o contacto com o comboio do título (há seis pontos em disputa), uma análise realista fá-los-á apontar baterias à medalha de prata. O abaixamento de forma dos “encarnados” cruza-se com a subida de produção dos “leões”, que aproveitaram o contexto para igualarem o rival na tabela. Na prática, isto significa que vão entrar no clássico da próxima jornada, em Alvalade, em vantagem — conseguiram uma igualdade na primeira volta (1-1) no Estádio da Luz e, para efeitos de desempate no final da Liga, o primeiro critério a vigorar é o do confronto directo.

Numa temporada em que o FC Porto tem sido altamente consistente e se aproxima a passos largos do título, há uma outra equipa em destaque: o Sp. Braga. Abel Ferreira conduziu os minhotos à melhor pontuação de sempre da sua história, ultrapassando o recorde de 71 pontos de Domingos Paciência, em 2009-10. Com isso, cavou um fosso maior para os adversários fora do top 4 (a diferença para o quinto é superior a 15 pontos) e confirmou os bracarenses como uma ameaça real às aspirações dos três históricos portugueses: a duas rondas do final, o pódio ainda é uma possibilidade.

As incógnitas em relação ao desfecho do campeonato também se alargam ao fundo da classificação. Feirense, Paços de Ferreira e V. Setúbal ainda lutam pela permanência, mas quem esbraceja com maior dificuldade são o Desp. Aves e o Estoril, penúltimo e último da tabela, respectivamente, que hoje medem forças num duelo pela sobrevivência. São os dois lugares mais impopulares da Liga e também irão decidir-se no último fôlego da prova.

Se o equilíbrio em campo, naturalmente entre equipas com diferentes aspirações, tem sido uma evidência, também não restarão dúvidas de que 2017-18 é uma das temporadas mais atribuladas no plano do discurso. Numa espiral alimentada sobretudo pelos gabinetes de comunicação dos “grandes”, têm-se sucedido denúncias, acusações, investigações e críticas disparadas na direcção dos rivais, com o Benfica, envolvido em polémicas que vão desde a divulgação dos emails até à detenção de Paulo Gonçalves, a assumir aqui o papel de alvo preferencial.

Tem sido no meio deste lodaçal que, apesar de tudo, tem sobrevivido o interesse que desperta o campeonato português, com surpresas interessantes como o Desp. Chaves, o Tondela ou o Boavista (as boas prestações do Rio Ave começam a ser regra e não excepção) e com jogadores que, apesar do ruído exterior, vão confirmando o talento e a qualidade que é internacionalmente reconhecida aos futebolistas nacionais.

E quando se olha lá para fora, especialmente para as Ligas que maiores atenções e orçamentos concentram, conclui-se que a décalage entre o campeão e os restantes aspirantes é bem mais vincada por estes dias. Basta ver, a esse respeito, que já há muito se celebrou o título na Alemanha (Bayern Munique), França (PSG), Inglaterra (Manchester City) e até Holanda (PSV), enquanto em Espanha o Barcelona celebrou ontem a conquista do 25.º campeonato. A honrosa excepção é Itália, onde Juventus e Nápoles, apesar do afastamento promovido neste fim-de-semana, prometem espremer o scudetto até à última gota.

Sugerir correcção
Ler 13 comentários