Do individual ao colectivo, do paraíso à catástrofe: os Dias da Dança começam a mexer-se
Mara Andrade, Luísa Saraiva, Carlota Lagido e Cristina Planas Leitão mostram novas peças na primeira de três semanas de festival.
Após o cancelamento, por motivos de força maior, daquele que deveria ter sido o espectáculo de abertura do terceiro DDD — Dias da Dança, (b)reaching stilness, da suíça Lea Moro (o arranque acabou por fazer-se com a reposição de Brother, de Marco da Silva Ferreira, cada vez mais popular tanto lá fora como cá dentro), o festival acolhe esta sexta-feira a primeira de uma série de estreias absolutas. Só na semana inaugural do DDD, e além de Olga Roriz, outras quatro coreógrafas portuguesas (Mara Andrade, Luísa Saraiva, Carlota Lagido e Cristina Planas Leitão) mostram pela primeira vez as suas novas peças entre Porto, Gaia e Matosinhos. Vindos de fora, há ainda dois espectáculos em estreia nacional para ver este fim-de-semana: Jerada, encontro da coreógrafa marroquina Bouchra Ouizguen com a Carte Blanche — Companhia Nacional de Dança Contemporânea da Noruega (Rivoli, dia 28, 22h), e Minor Matter (Campo Alegre, dia 29, 17h) que deu a Ligia Lewis um Bessie em 2017 e que aqui se apresenta no âmbito do terceiro e último capítulo do simpósio de pensamento crítico Metabolic Rifts, com curadoria de Alexandra Balona, crítica de dança do PÚBLICO, e Sofia Lemos
The Lonely Tasks
A limpeza, os cuidados da pele, o tricô, o jantar — é de tarefas quotidianas como estas, exploradas na sua dimensão performativa, que Mara Andrade se ocupará neste e no próximo fim-de-semana. A série de solosThe Lonely Tasks inclui uma instalação que pode ser vista em contínuo (Mala Voadora, sdias 28 e 5 das 11h às 14h30 e das 16h às 19h30; dias 29 e 6 das 11h às 14h30) e duas performances para apenas 50 pessoas, Après-midi (dias 28, 29, 5 e 6, 15h) e The Lonely Dinner (dias 28 e 5, 20h30).
Enchente
Luísa Saraiva inspirou-se nos comportamentos de multidões em situações de pânico ou urgência colectiva (confrontos em protestos, esmagamentos em raves, saques de supermercados, invasões em black fridays, concertos dos Beatles, celebrações em campeonatos do mundo…) para compor Enchente (Constantino Nery, dia 28, 19h), a peça com que regressa ao Porto após a licenciatura em dança que a levou a Essen, na Alemanha.
Jungle Red
A partir do nome de um verniz para as unhas referido num filme de George Cukor (Mulheres, 1939), Carlota Lagido lançou-se numa viagem nostálgica em busca do paraíso (um paraíso certamente perdido, atendendo à velocidade com que no planeta “tudo se está a esgotar”, admite). Jungle Red (Constantino Nery, dia 1, 22h) tem ainda assim uma esperança: a de que a beleza, ou mesmo o seu excesso, possa ser “um antídoto” para “toda a disfunção do mundo”.
Um [Unimal]
Criada entre Portugal, o Chile e a Dinamarca, a nova peça de Cristina Planas Leitão (Palácio do Bolhão, dia 2, 19h) parte da figura da marcha, característica tanto de contextos de opressão como de libertação, para investigar as tensões entre a autoridade e a autoria. Insistentes, as instruções dirigidas em tempo real pela coreógrafa à intérprete, Daniela Cruz, testam essa tensão até ao seu limite.