O artista plástico Edgar Martins foi o vencedor dos Sony World Photography Awards na categoria de Natureza Morta (Still Life), anunciados esta quinta-feira, 19 de Abril, em Londres, com uma série de imagens intitulada Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios. O artista português nascido em Évora e residente em Bedford, Inglaterra (país para onde se mudou em 1996), desenvolveu este projecto a partir de uma pesquisa nos arquivos do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses de Lisboa e Coimbra, recorrendo a materiais relacionados com homicídios e suicídios, quer fossem cartas de despedida ou relatórios de autópsias. Depois de vários anos embrenhado no tema da tecnologia, Edgar encontrou na morte e na sua representação aquilo que designa como "um interlúdio entre a arte a não-arte, entre a realidade e a ficção", disse ao P3. O que lhe interessou questionar foi saber "como é que se representa a morte; quais são as nossas responsabilidades éticas nessa representação; como se representa um corpo morto ou a cena de um crime?".
Acresce a isto que Edgar Martins foi o segundo classificado na categoria de fotografia de Arquitectura com a série A Impossibilidade Poética de Conter o Infinito, realizada na Agência Espacial Europeia (ESA). Edgar Martins foi, até à data, o único concorrente dos Sony Awards finalista em três diferentes categorias: Natureza Morta, Arquitectura e Descoberta. De resto, o português já tinha obtido um segundo lugar, na categoria de Paisagem, com a série de fotos The Accidental Theorist (sobre a costa de Lisboa), numa das anteriores edições deste que é um dos maiores concursos mundiais de fotografia.
"Exilado voluntário"
O percurso deste "exilado voluntário" de 41 anos, como se auto-define, decompõe-se numa trajectória iniciada em Portugal, prolongada em Macau, onde viveu dos 3 aos 18 anos, e agora em Inglaterra, onde irá inaugurar uma nova exposição, no próximo mês, no New Walk Museum & Art Gallery de Leicester. Esta trajectória acaba por explicar a abordagem multifacetada do seu trabalho e o facto de ter sido finalista em três diferentes categorias do concurso.
Obras suas constam do acervo das fundações Calouste Gulbenkian e EDP, tendo sido distinguido como o prémio BES Photo em 2009 e, mais recentemente, nos Magnum Awards. Edgar Martins era um dos três portugueses entre os finalistas do concurso: menções honrosas foram atribuídas aos trabalhos dos fotógrafos não-profissionais Adriano Neves e António Coelho, nas categorias de Arquitectura e de Enhance, respectivamente.
Na edição de 2018, a 11.ª, foram submetidas cerca de 320 mil imagens, oriundas de mais de 200 países, um aumento de 40 por cento face ao ano anterior, segundo a organização, transmitindo “uma visão das principais tendências e preocupações contemporâneas”. São quatro as competições deste prémio (Professional, Open, Youth e Student Focus), que se dividem por várias categorias. Tal com nas anteriores edições, os Sony Awards vão atribuir um prémio a um fotógrafo pela sua contribuição excepcional para a fotografia. A alemã Candida Höfer junta-se, assim, a nomes como Martin Parr, Elliot Erwitt e Mary Ellen Mark. A exposição com as fotografias dos finalistas do concurso estão expostas, como habitualmente, na Somerset House, em Londres, até 6 de Maio.
O jornalista viajou para Londres a convite dos Sony World Photography Awards