Ignorar ou conversar com o 5 Estrelas? Cúpula do PD cada vez mais dividida
Militantes de topo do partido contestam opção de Renzi pela oposição e insistem em conversar com Di Maio para uma possível coligação de Governo.
Na ressaca das eleições italianas do dia 4 de Março e depois de o Partido Democrático (PD) ter tido o seu pior resultado de sempre (18%), Matteo Renzi deixou uma promessa, na hora de se afastar da liderança do partido: com ou sem ele, o PD nunca entraria “num Governo com os extremistas”. E confrontado sobre os rumores de entendimentos entre alguns membros do seu partido e o líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), Luigi Di Maio, o ex-primeiro-ministro contestou, irritado: “Há pelo menos três elementos que nos separam de Di Maio: o antieuropeísmo, a antipolítica e o ódio verbal que caracterizou a sua campanha. Que façam Governo sem nós”.
Se a postura irredutível de Renzi já não era consensual dentro do PD antes das eleições, muito menos o é agora, tendo em conta o impasse político em que a Itália está mergulhada há mais de um mês, na sequência dos resultados dispersos do acto eleitoral – o M5S foi o partido mais votado (32%), mas acabou suplantado em cinco pontos percentuais pela coligação de direita, onde se incluem a Liga, de Matteo Salvini, e a Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi –, que obrigam os principais intervenientes a negociar uma solução de Governo.
Nos últimos dias foram várias as vozes dentro do PD que se mostraram abertamente contra a opção favorável a uma mera postura de partido opositor e que insistiram na necessidade de, pelo menos, se conversar com Di Maio, para se perceber se existem condições para a formação de um Governo com o partido anti-sistema. Até porque não são poucos os militantes do partido de centro-esquerda que acreditam que cabe ao PD a missão de transformar o M5S num partido de sistema.
“Não podemos simplesmente sentarmo-nos a assistir e a comer pipocas. Em democracia não existem espectadores”, argumentou na segunda-feira o ex-ministro da Justiça Andrea Orlando, citado pelo Financial Times, para quem as divergências programáticas profundas entre PD e M5S não são um empecilho às negociações.
Na terça, e na mesma linha, o antigo responsável pela pasta da Cultura defendeu numa reunião do grupo parlamentar que o PD tem o dever de impedir a formação de um executivo que envolva a extrema-direita de Salvini, e de lutar para evitar que a Itália se transforme “numa Hungria”. “Os interesses do país devem sobrepor-se aos do partido”, afirmou Dario Franceschini.
Di Maio já disse que privilegia mais um entendimento com o centro-esquerda (mas sem Renzi) do que com a direita (sem Berlusconi). Nesse sentido, o líder do M5S, que já admitiu que é tempo de “enterrar o machado de guerra”, assiste com interesse à discussão interna dentro do PD, esperando que dela desponte uma fragmentação que lhe possa oferecer os deputados necessários para conseguir uma maioria.
O timing das tomadas de posição de Orlando e de Franceschini não é inocente. Fracassada a primeira ronda de consultas aos partidos, o Presidente Sergio Mattarella recebe de novo os responsáveis das forças políticas italianas envolvidas nas eleições na quinta e sexta-feira, para uma segunda volta de conversas. Os antigos ministros acreditam que a pressão sobre a ala “renzista” do PD pode moldar o rumo do debate entre a liderança do partido e o chefe de Estado.
Moderador neutral
Sergio Mattarella, por seu lado, está bastante empenhado em encontrar uma solução que possibilite a investidura de um Governo antes dos dois meses estimados pelo próprio.
De acordo com uma fonte próxima presidencial, citada pela Reuters, o Presidente estará mesmo a pensar em nomear uma “figura institucional neutral” para moderar as negociações entre os principais partidos, caso o bloqueio político se mantenha depois da segunda ronda de consultas.
A ideia de Mattarella é encontrar um detentor de um “alto cargo institucional” – como um juiz do Tribunal Constitucional ou o presidente de uma das duas câmaras do Parlamento – que possa levar a cabo um conjunto de conversas “mais flexíveis e informais” com os respectivos líderes partidários.