O brunismo, essa doença infantil do futebolismo... e do jornalismo
Acho em geral abominável a importância (e o dinheiro, designadamente público) que se dá aos clubes. Acho vários dos seus presidentes figuras assustadoras, comportando-se em público como uma espécie de coronéis do velho Brasil, tribais, acima da lei, no que me parece aliás que Bruno de Carvalho não é muito diferente, com a sua voz de tiranete da turma.
Como qualquer bom aspirante a intelectual da nossa terra, também eu penso duas ou três vezes antes de escrever sobre futebol. E este não é um texto contra ou a favor de Bruno de Carvalho, de quem apenas conheço a figura e algumas declarações públicas, designadamente as últimas. Não sou do Sporting e nem sequer grande apaixonado por futebol, apesar de gostar de ver bons jogos, que raramente ocorrem em Portugal.
Acho em geral abominável a importância (e o dinheiro, designadamente público) que se dá aos clubes. Acho vários dos seus presidentes figuras assustadoras, comportando-se em público como uma espécie de coronéis do velho Brasil, tribais, acima da lei, no que me parece aliás que Bruno de Carvalho não é muito diferente, com a sua voz de tiranete da turma.
Se porventura fossemos capazes de aplicar aos clubes de futebol e aos seus dirigentes um centésimo da exigência que gostamos de ver aplicada aos nossos partidos e aos nossos políticos, o resultado seria bem divertido.
Enfim, talvez seja ingénuo pensar que um dia o nosso futebol, a mais bem-sucedida, fulgurante e perene criação do Estado Novo, seja substituído, digamos, pelo corfebol, por exemplo, no nosso imaginário e na nossa prática. Até porque algo que inclui o mesmo número de homens e mulheres na equipa e onde não se pode tocar com pernas, pés ou punhos ou sequer correr com uma bola parece algo para ser praticado no sofá por adeptos - e não por jogadores em campo...
Disse que estas não eram palavras nem contra nem a favor de Bruno de Carvalho. Porque Bruno de Carvalho, como Pinto da Costa ou Luís Filipe Vieira, na verdade, não têm importância nenhuma.
Mas Bruno de Carvalho, como qualquer outra pessoa, mesmo estando a ser vaiado sem quartel pelos disparates que escreveu, fez e disse, merece pelo menos que alguém grite que um médico como Eduardo Barroso, que para mais se diz seu amigo, não deve afirmar aos jornais que Bruno está em burnout – que não é apenas um anglicismo chique, mas uma condição clínica séria e que exige tratamento. Tal como é inaceitável o que o Correio da Manhã TV fez, expondo imagens da sua mulher grávida, ao seu lado e à porta da maternidade, com um rodapé garrafal onde se lia “Mulher de Bruno de Carvalho apanhada a fumar pouco antes de ser mãe” ou algo muito parecido, facto com um interesse público notável.
Não faz mal a quem se queira intitular jornalista um pouco de vergonha. E faz bem a todos um pouco de decência. Mesmo falando-se de futebol.