"Brindamos à cerveja artesanal com vinho do Porto." Sophia Bergqvist ergueu o copo de Quinta de la Rosa Porto Vintage para celebrar um projecto "um pouco diferente", estranho ao universo vinícola. À sua frente, na mesa do Cantina 32, no Porto, a acompanhar a comida de Luís Américo, estão os vinhos La Rosa e estão também dois dos três mais recentes elementos da família: as cervejas artesanais IPA, lançada em 2017, mas agora com uma receita apurada, e Lager — fica a faltar a Stout, que será feita com o vinho do Porto Quinta de la Rosa Vintage e estará no mercado no Verão. "Na de La Rosa gostamos muito de desafios", sublinhou, entusiasmada, a gestora e proprietária da quinta, juntamente com o irmão, Philip Bergqvist.
Menos de um ano depois do ultimo desafio — a abertura do restaurante Cozinha da Clara —, a história do novo desafio conta-se com um copo de cerveja na mão. “Tenho um amigo que é mestre cervejeiro em Cambridge. Chama-se Richard Naisby e todos os anos vem ao Porto jogar críquete, e segue, depois, para uns dias de descanso na Quinta de la Rosa. Num desses momentos em família na quinta começamos a falar de cerveja e no facto de alguns produtores de espumante, em Inglaterra, estarem a estender o negócio à cerveja. Então, pensei em aproveitar as cubas de inox que usamos no vinho para a cerveja." Se há muito que Richard (e a sua The Milton Brewery) usa o vinho do Porto de La Rosa na produção personalizada de cerveja preta Stout Markus Aurelius, porque não fundir um pouco mais as técnicas?
"Resistente" à mudança ("sentia-me como se estivesse a trair o vinho"), Jorge Moreira, enólogo da Quinta de la Rosa, propriedade vitivinícola localizada no Pinhão, em pleno Douro vinhateiro, e Kit Weaver (24 anos, filho mais velho de Sophia), mergulharam de cabeça no manual de instruções. "Fui completamente enganado", brinca hoje o enólogo. "Fazer boas cervejas não é simples, é muito complicado", sentencia.
"Os cuidados que há a ter durante as fermentações são semelhantes, a forma como se procuram os aromas e os sabores e o equilíbrio e os diferentes perfis também é equivalente — só que em vez de usarmos uvas usamos lúpulos. A grande diferença é que nas cervejas podemos fazer muitas tentativas durante o ano, muitas fermentações, e no vinho não. Fazemos uma vez a vindima, se o tempo não ajudar ou se fizermos alguma asneira... temos que esperar mais um ano", explica Jorge Moreira, que apenas tinha experiência com cervejas "como consumidor". "O grande problema é que me arruinou completamente a capacidade de beber as cervejas que normalmente bebemos. Sempre pensei que as cervejas que bebia enquanto jovem eram muito boas, mas já percebi que não me interessam nada, que são cervejas simples e desequilibradas que não me dão metade do prazer de uma cerveja feita com os cuidados que nós colocamos nestas cervejas."
A produção cervejeira é feita numa adega em Sabrosa, onde foi criado um laboratório de análise específico e onde um contentor frigorífico mantém a temperatura da cerveja no ponto. "Peguei numa cerveja completamente inglesa e dei-lhe a identidade do Douro — não só pela utilização de barricas onde estagiamos o vinho La Rosa reserva branco, mas também pelo equilíbrio de sabores e de estrutura que tentamos passar do vinho para a cerveja. Tento passar a noção de equilíbrio e de elegância dos nossos vinhos para a cerveja. A cerveja tem a nossa marca, tem a marca La Rosa, e por isso tem que ter um padrão de qualidade e de identidade único."
Estas cervejas artesanais, descreve o enólogo em conversa com a Fugas, são "muito mais aromáticas, encorpadas, complexas e equilibradas". "Têm uma identidade diferente, um perfil diferente de todas as restantes que existem no mercado. Têm uma identidade, que vai sendo revelada durante uma refeição. São cervejas mais gastronómicas. As outras vejo-as mais como um refrigerante."
A quinta apresenta assim os mais jovens elementos da família:
"A La Rosa IPA (7,0%; €3,50) apresenta uma cor dourada e, na boca, notas de frutos cítricos, como a laranja e o maracujá, mas também nuances florais, características provenientes dos lúpulos utilizados e das barricas onde estagiam. É uma cerveja encorpada, com um pronunciado amargor, o que a torna fresca e fácil de beber. Produzida em pequenos lotes de cerca de 1000 litros cada, esta cerveja é feita a partir de cevada maltada Maris Otter adicionada a uma variedade de lúpulos e fermentos, alguns dos quais são acrescentados ao longo das várias fases de produção. A fermentação decorreu em cubas de inox a uma temperatura controlada de 10.° C durante cerca de dez dias. Depois de estabilizada, metade da cerveja foi guardada em barricas de carvalho usadas durante o estágio dos brancos que dão origem aos La Rosa Reserva."
"O dourado é também predominante na cor da La Rosa Lager (5,5%; €3,50). No palato denota acidez e um ligeiro aroma floral que, no conjunto, resulta num equilíbrio perfeito, deixando o paladar fresco e prolongado. Apesar de complexa, é de fácil consumo. A produção foi feita em pequenos lotes de cerca de 1000 litros cada e, à semelhança da anterior, foi utilizada a cevada Maris Otter com variedades de lúpulos e fermentos. Alguns lúpulos foram adicionados durante o processo de produção. A fermentação ocorreu em cubas de inox por dez dias, durante os quais permaneceram a uma temperatura de 10°C. Findo este processo, a cerveja foi estabilizada e filtrada a posteriori, antes de ser engarrafada."
"Na última semana, na de La Rosa bebemos mais cerveja do que vinho", brincou Sophia Bergqvist, copo (vinho primeiro, cerveja depois) a acompanhar as iguarias que desfilaram pela mesa do Cantina 32 (salmão curado em mostarda, laranja, molho de chalota e ovo raspado; polvo salteado com batata-doce assada; tataki de atum com sementes de sésamo; caldeirada de lulas e camarão; vitela na brasa à Lafões com batata a murro e salada básica; suspiro com framboesas e chocolate e terrina de chocolate).
A distribuição está a cargo da DCN Beers, com mais de 20 anos de experiência na distribuição de cervejas.