Investigação à chinesa CEFC provoca impasse nas compras em Portugal e Rússia

Grupo que quer petrolífera da Gulbenkian e seguros do Montepio já desistiu de reforço em instituição financeira na República Checa, na sequência da investigação ao seu presidente.

Foto
Grupo está a ser controlado pelo Estado chinês REUTERS/Aizhu Chen

Depois de uma série de intenções de compras, que incluía os seguros do Montepio e a petrolífera da Gulbenkian, o grupo chinês CEFC está agora num momento de viragem e de indefinição, após o seu presidente, Ye Jianming, ter sido alvo de investigação pelas autoridades de Pequim no final de Fevereiro, por suspeitas da prática de crimes económicos. Há, aliás, notícias de que Ye Jianming ficou preso, e que o seu afastamento da CEFC vai ser oficializado em breve.

Entre a falta de esclarecimentos oficiais e ausência de transparência em aspectos como a estrutura accionista actual, colocam-se várias dúvidas sobre se as intenções de negócio se vão mesmo concretizar, e, se sim, em que moldes ou a que preço.

A nível mundial, o grupo chinês CEFC fez-se notar quando apareceu em Setembro do ano passado como comprador de uma fatia de 14% do gigante petrolífero russo Rosneft, avaliada em 9,1 mil milhões de dólares (cerca de 7,4 mil milhões de euros). A CEFC era, segundo dizia a própria, o maior grupo privado chinês ligado ao petróleo e ao gás, com 50 mil trabalhadores e receitas superiores a 40 mil milhões de dólares.

Foi por essa altura que a CEFC e a Associação Mutualista Montepio anunciaram um “acordo de cooperação estratégica”, que deveria resultar numa operação concreta: a aquisição de 60% do negócio dos seguros do Montepio. A estratégia de crescimento rápido por aquisições da CEFC, conglomerado orientado para o sector energético, inclui também, como foi anunciado no início de Fevereiro, a compra da Partex, a petrolífera da Fundação Calouste Gulbenkian.

Nada disto, no entanto, se concretizou ainda, e todas as partes, apesar de questionadas, se remetem ao silêncio. No que diz respeito ao maior negócio de todos, o da Rosneft, a Reuters dizia esta sexta-feira que estava parado. "A outra parte [CEFC] simplesmente desapareceu”, afirmou uma fonte à Reuters.

Sabe-se, no entanto, que a CEFC Europe, que tem uma forte presença na República Checa, já recuou num grande negócio na sequência da turbulência da investigação a Ye Jianming (e que estará ligada ao controlo de Pequim junto dos grupos chineses com expansão internacional acelerada e elevado endividamento).

A ideia era ficar com 50% do grupo financeiro checo J & T Finance (já detém 9%), mas a CEFC Europe veio agora esclarecer que abandonou essa intenção, aproveitando para esclarecer que a CEFC China “como entidade jurídica, não é objecto de uma investigação pelas autoridades chinesas”.

Ao mesmo tempo, confirmou que, nas alterações em curso, a CEFC Europe vai “contar com um novo accionista”. Este deverá ser, segundo tem sido noticiado, uma entidade estatal chinesa, a CITIC, à qual caberá 49% do capital. Há também notícias que dão conta de que o grupo CEFC está a ser gerido por uma entidade ligada ao governo de Xangai, o grupo Guosheng. Segundo a Reuters, também a gestora de activos Huarong, do Estado chinês, ficou com 36,2% da CEFC Hainan International, entidade através da qual se estava a operar o negócio com a Rosneft.

Quando todo este processo estiver mais normalizado será então possível ver se negócios como a compra da Partex se concretizam ou não. Seja como for, estes agora também envolvem o Estado chinês.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários