Merkel fala a uma Alemanha “dividida”
“O islão tornou-se parte da Alemanha”, repetiu a chanceler no primeiro discurso ao Parlamento do seu quarto mandato.
A Alemanha está “dividida” depois dos grandes desafios dos últimos anos, da crise do euro à chegada de refugiados, reconheceu esta quarta-feira a chanceler alemã, Angela Merkel, no Parlamento.
Apesar de a situação do país estar melhor do que nunca desde a reunificação, Merkel admitiu que muitos cidadãos se preocupam com o futuro e que o debate está polarizado e que isso se deve sobretudo ao debate sobre a imigração.
Merkel defendeu, mais uma vez, a decisão de abrir a porta aos refugiados em 2015, dizendo que a Alemanha reagiu tarde à guerra na Síria e ao facto de o sistema de Dublin não estar a funcionar. Foi uma obrigação humanitária “da qual devemos estar orgulhosos”. No entanto, apresentou várias razões pelas quais a situação não se vai repetir, desde o acordo com a Turquia à maior capacidade orçamental da agência da ONU para os refugiados.
No seu primeiro discurso do quarto mandato, Merkel não evitou a polémica sobre se o islão faz ou não parte da Alemanha – começado por uma declaração do seu novo ministro do Interior, Horst Seehofer, da CSU. “O islão tornou-se parte da Alemanha”, repetiu Merkel: “O nosso país é cristão, mas 4,5 milhões de muçulmanos mostram que a sua religião já há muito se tornou parte do nosso país”. Mas abriu a porta a quem discorda: “estão no seu direito”.
Merkel falou ainda de questões internacionais. “Preferia não mencionar a Rússia hoje”, disse a chanceler, mas as provas no caso do ataque ao ex-espião Sergei Skripal no Reino Unido “não podem ser ignoradas”. “Agora os esclarecimentos cabem à Rússia”, disse Merkel.
A chanceler considerou ainda “inaceitável” o que está a acontecer em Afrin, na Síria, onde decorre uma ofensiva militar turca contra as forças curdas, e em Ghouta, onde as tropas de Assad matam perante a impassibilidade das forças russas.
Voltando à política interna, Merkel reafirmou a oposição do Governo a uma proibição geral de entrada de veículos a diesel nos centros das cidades, dizendo que é necessário um plano feito à medida de várias situações diferentes. No entanto, apontou o dedo à indústria automóvel alemã, que manipulou software para mostrar menores emissões do que as reais, dizendo que esta tem “de reparar os erros do passado”.
O Parlamento estava cheio para ouvir a declaração política de Merkel, mas quando a chanceler terminou apenas os conservadores da CDU e CSU aplaudiram – os deputados do Partido Social-Democrata (SPD), seu parceiro de coligação, mantiveram-se em silêncio, tal como os partidos da oposição, apontou a jornalista Maximiliane Koschy, da emissora alemã Deutsche Welle.