O projecto português Lisbon Poetry Orchestra edita esta semana um duplo álbum, que é também um livro e será um espectáculo em torno de poetas portugueses recentes, para provar que "a poesia não tem nada que ser aborrecida". Quem o diz, em entrevista à agência Lusa, é o músico e programador Alexandre Cortez, fundador dos Rádio Macau e de outros projectos que foram desaguando na poesia, como Wordsong, Social Smokers e a tertúlia semanal Poetas do Povo, em Lisboa.
Foi nessas tertúlias, em que se improvisa música para poesia dita, que nasceu em 2014 a Lisbon Poetry Orchestra, com os músicos Alexandre Cortez, Filipe Valentim, Luís Bastos e Tiago Inuit. Quatro anos e vários espectáculos depois, o grupo encomendou poemas inéditos a cinco autores portugueses para composições instrumentais: Cláudia R. Sampaio, Daniel Jonas, Filipa Leal, Paulo José Miranda e Valério Romão. Depois juntou-lhes quatro declamadores — André Gago, Nuno Miguel Guedes, Miguel Borges e Paula Cortes —, convidou Daniel Moreira para criar um livro ilustrado com os poemas e o resultado é o duplo álbum/livro, um objecto híbrido poético, intitulado Poetas Portugueses de Agora.
"O que está por detrás do projecto e deste trabalho é uma teia de cumplicidades que se foi criando com alguns dos participantes de Poetas do Povo", contou Alexandre Cortez. Segundo o músico, a par da valorização da poesia, há um lado conceptual que o grupo quer evidenciar: "Tentar interagir com o público o mais possível".
O álbum é duplo porque um dos discos tem apenas o instrumental, para que cada pessoa possa dizer ou gravar, se quiser, poemas inéditos ou de outros autores. O livro, de Daniel Moreira, tem 15 poemas daqueles cinco autores portugueses e disponibiliza páginas em branco para as pessoas desenharem ou escreverem o que quiserem. Com um objecto que cruza vários media, Alexandre Cortez gostaria que, de futuro, os espectáculos da Lisbon Poetry Orchestra incluíssem material inédito do público.
"Temos sentido é que há um leque bastante abrangente e transversal de público interessado nisto. Temos pessoas dos 16/17 [anos] até pessoas mais velhas, que têm uma particularidade: gostam todos de poesia ou da performance poética", afirmou. Alexandre Cortez rejeita qualquer ideia de missão do grupo em torno da poesia: "A poesia não tem nada que ser aborrecida e pode ter uma forte dinâmica e, em espectáculo, nós tentamos trabalhar a palavra nesse sentido".
O álbum-livro Poetas Portugueses de Agora é uma edição da abysmo e será apresentado oficialmente ao vivo esta quarta-feira, 21 de Março, Dia Mundial da Poesia, no Auditório Ruy de Carvalho, em Oeiras.