Líder saudita insiste na ameaça iraniana, Trump celebra vendas de armas
Mohamed bin Salman chegou aos Estados Unidos para uma operação de charme de três semanas. Presidente americano congratula-se com o dinheiro gasto pelos sauditas em armamento dos EUA.
Foram só alguns momentos, depois do almoço de trabalho na Casa Branca, mas Mohamed bin Salman (MBS), o convidado, deixou o anfitrião brilhar: Donald Trump mostrou aos jornalistas um grande cartaz com vários tipos de armamento e um título “12,5 mil milhões em vendas finalizadas à Arábia Saudita”. Foi a forma encontrada pelo Presidente dos Estados Unidos para dizer aos americanos “vêem, somos amigos, mas compensa, ele gasta cá muito dinheiro”.
MBS, como é conhecido o príncipe herdeiro e líder de facto do reino dos santuários do islão, riu e até falou inglês em público, algo muito raro, para recordar que os sauditas foram “os primeiros aliados dos EUA no Médio Oriente” e descrever a relação como “forte e profunda”.
“Está aqui, vêem, são 130 milhões. Aqui outros três. Aqui 425 milhões. Isto são tostões para vocês”, enumerou o chefe de Estado americano, apontando para mísseis ou bombardeiros. “Tornámo-nos muito bons amigos muito depressa”, disse Trump. “Provavelmente, a relação está no seu melhor agora e penso que só pode melhorar. Um enorme investimento feito no nosso país que significa trabalho para os nossos trabalhadores”, afirmou, na curta sessão fotográfica aberta aos jornalistas.
Enquanto MBS era recebido na Casa Branca, no Congresso, os senadores discutiam uma resolução em que se pede o fim do apoio dos EUA aos sauditas no Iémen, onde Riad lançou uma campanha militar a pretexto da aliança entre o Irão e aos rebeldes houthis. Alguns eleitos americanos têm criticado a intervenção, responsável pela morte de pelo menos dez mil civis (incluindo cinco mil crianças) e que deixou milhões à beira de morrer à fome.
Muitos tentaram convencer Trump a pressionar MBS no sentido de salvaguardar as vidas dos iemenitas, mas ninguém acredita que o tema tenha estado no topo da agenda. Do lado americano, o Presidente queria provar que fez bem ao ir a Riad na sua primeira viagem externa, onde assegurou pré-acordos para investimentos de 200 mil milhões de dólares (163 mil milhões de euros), incluindo muito armamento, tanto que deverá permitir criar 40 mil novos postos de trabalho.
Já MBS, que vai passar três semanas nos EUA numa verdadeira visita de charme, à procura ele próprio de investimento externo no seu país, terá aproveitado para se apresentar como líder da única verdadeira potência regional (é assim que se tem descrito em entrevistas), procurando que Trump adopte em relação ao Irão uma “política ainda mais dura” (isso mesmo antecipou aos jornalistas em Washington o ministro dos Negócios Estrangeiros, Adel al-Jubeir).
Em cima da mesa esteve certamente a disputa com o Qatar, na qual Riad arrastou todos os outros membros do Conselho de Cooperação do Golfo. Trump quer que MBS resolva este problema antes de uma cimeira com países do Golfo Pérsico que pretende organizar em breve. Segundo Jubeir, na lista de preocupações que MBS levou a Washington, o Qatar é “irrelevante”.
Numa entrevista transmitida no domingo à noite, a primeira dada por MBS a uma televisão americana, o líder saudita comparou o Guia Supremo iraniano, ayatollah Khameini, a Adolf Hitler, “de forma muito idêntica, também ele quer criar o seu próprio projecto no Médio Oriente”, e avisou que se Teerão “desenvolver uma bomba nuclear”, os sauditas seguirão os seus passos “o mais depressa possível”.
Parte da conversa no programa 60 Minutes da CBS, foi usada para defender as suas credenciais de reformista, que autorizou as mulheres a conduzir (mas ainda não as libertou do sistema de dependência do guardião masculino), permitiu a abertura de cinemas e quer diversificar as fontes de rendimento do reino. “A Arábia Saudita acredita na noção de direitos humanos”, sublinhou.
De Washington, MBS e a enorme delegação que viajou consigo partirão para Boston, Nova Iorque, Silicon Valley, Los Angeles e Houstou. A ideia, explicou a embaixada, é ter encontros com “organizações filantrópicas, empresas de defesa e tecnologia, e gigantes do entretenimento”. É uma espécie de Blitz de relações públicas para atrair investimento e cimentar a sua imagem de modernizador.